Vamos abrir os
documentos retirados do acervo do Sr. Baptista e AutoMotor. Você estava ansioso para isso? Eu
também!
Andei pensando na melhor forma de publicar esse material e decidi que não iria
incluí-los nas pesquisas já feitas como uma atualização. Vou criar uma pesquisa
complementar para os assuntos já existentes e uma pesquisa nova para os
assuntos que ainda não falamos no blog.
Para ficar organizado, vou seguir a ordem cronológica. É por isso que vamos
começar pelo ano de 1971.
De acordo com o título dessa pesquisa, falaremos sobre um assunto já conhecido,
porém com informações especiais e totalmente privilegiadas, mas para começar,
vamos relembrar o que já vimos sobre isso:
Leia aqui a pesquisa a respeito de 1971 para entender
melhor o assunto.
Ok, de tudo o que aconteceu de importante naquele ano, vamos focar na clínica
feita para escolher qual seria o carro médio que a Ford fabricaria no Brasil.
Nesse ponto, o foco é na revista Quatro Rodas de setembro de 1971. O próprio título da reportagem era:
O Povo Escolheu o Maverick, mas infelizmente não é essa informação que vemos
por aí.
Acessei alguns sites que contam isso:
Dizem que a
pesquisa feita deu o Taunus como o carro escolhido, mas eu ainda não entendi de
onde é que tiraram isso...
Bom, voltando...
Na ocasião da pesquisa eu comentei:
"Fiquei muito interessado em saber quais
eram as perguntas do questionário de avaliação. Já pensou se aparece algum
exemplar por aí?"
Pois é, no acervo do seu Baptista contém o resultado dessa pesquisa.
Impressionante? TOTALMENTE!!!!
Mas antes, algumas considerações:
Para ficar mais fácil de compreender como essa pesquisa se encaixa no
contexto da outra que já fizemos no blog, aconselho que vocês abram a pesquisa deste link (aqui) em outra guia do
navegador da internet e vão comparando os dois, ok?
Acervo Sr. Baptista - AutoMotor |
Muito bem, vamos lá:
Logotipo da Ford, data 19.8.1971 e o primeiro ( e único ) nome que reconheço agora é do Presidente da Ford no Brasil, o senhor Joseph O'Neill.
Assunto: Pesquisa Avançada de Produto no Brasil
Vemos os objetivos dos estudos da clínica que está agendada para começar em 1.9.71. O resultado dessa clínica seria responsável pela decisão final do produto.
O segundo parágrafo fala de uma outra clínica feita em julho que indicou que o Maverick representa uma opção forte e competitiva tanto para o Opala quanto para o MH.
Ao que tudo indica, a Clínica foi dividida em mais de uma parte. Pelo que pude entender, a pesquisa de julho retornou em mais perguntas que seriam respondidas na próxima clínica de setembro. São perguntas a respeito de acabamento, preço, mecânica e estilo, mas também sobre um ponto que achei muito importante, que é o último citado:
"Qual das cinco alternativas representam o melhor efeito mínimo de empate com o Corcel e máxima conquista sobre o Opala?"
Ou seja, o novo carro não poderia estar no nível do Corcel para não haver concorrência na própria Ford, por outro lado, deveria ter o máximo de pontos positivos para ser melhor que o Opala.
Acervo Sr. Baptista - AutoMotor |
Além do assunto do
Maverick, vemos agora uma preocupação com o Corcel e seus futuros concorrentes.
Agora que já conhecemos os planos da Ford, vamos saber mais detalhes da sua
execução.
Precisamos levar em consideração que esse material é "novo" para mim
e pra muita gente. Até então, não temos outras cópias para avaliar se está
completo ou faltando partes. Vamos analisar o que temos em mãos, correto?
Ok, leiam com atenção:
Acervo Sr. Baptista - AutoMotor |
O propósito era
determinar a aceitação dos carros entre os donos de Opala e Corcel.
Podemos notar que o título conter "CLINICA II" pode se referir à
segunda parte da clínica, pois aconteceu no tanto no Clube Paulistano como mostrado
na Quatro Rodas de setembro de 1971, como no Clube Monte Líbano entre os dias
15 e 19 de setembro como mostrado aqui.
Muito bem, continuamos lendo que a identificação dos carros ali expostos foram
removidas e eram apenas descritos por uma letra. O INESE, Instituto de Estudos
Sociais e Econômicos foi escolhido pela Ford para comandar a clínica,
informação que a Quatro Rodas de setembro confirma.
A Quatro Rodas de
outubro de 1971 dá mais detalhes desse cronograma e chegamos à conclusão que:
1- Aconteceu uma
etapa da Clínica em julho;
Correio da Manhã 26.7.71 |
Correio da Manhã 19.8.71 |
Vantagem para o Maverick
2- Teve ou etapa da
Clínica no Clube Atlético Paulistano no início de setembro,
Quatro Rodas 9.71 |
Foram comparados: Opel 2 portas, Opala 4 portas, Maverick 2 e 4 portas, Corcel 2 portas e Corcel 4 portas luxo, MH 2 portas e MH 4 portas.
Preferência pelo
Maverick
3- Mais outra parte
da Clínica nos dias 9 a 15 de setembro no Monte Líbano, sem Opala e Maverick e
do dia 15 ao 19 com o Opala e o Maverick.
Corcel 1971 (E), Hillman
(B), Corcel Pinto (D), Volkswagen TL (H), Taunus (T), Opel Ascona (N), Corcel
1971 (E), Volkswagen 1500 (F), Corcel Pinto (D), Volksvagen TL (H), Taunus (T),
Cortina 4 portas (L), Cortina 2 portas (R), Maverick e Opala.
Quatro Rodas 10.71 |
O documento que
estamos analisando é sobre a última parte da Clínica.
Certo, vamos
para a lista dos carros:
- MH é um
protótipo. Um novo carro que teria como base o Taunus 20M alemão. Podemos nos
referir ao MH como o projeto exclusivo para o Brasil.
- STC é o Ford
Cortina inglês
- TC é o Ford
Taunus, que dividia a plataforma com o Cortina, mas era alemão.
- O Corcel já
vinha como modelo 1973.
Pelo que entendi, os carros relacionados no documento, não estiveram todos juntos em nenhuma etapa da clínica, portanto, acredito que esse estudo tenha filtrado apenas os carros desejados e comparado suas avaliações.
A Quatro Rodas de outubro, fala sobre o Corcel Pinto. Acredito que seja o Corcel 1973 deste documento.
Acervo Sr. Baptista - AutoMotor |
Legal não é mesmo? Tem mais!
Acervo Sr. Baptista - AutoMotor |
Acervo Sr. Baptista - AutoMotor |
E termina por aqui. Como eu disse, não temos como comparar para dizer se
está faltando mais partes deste documento e o que estaria faltando. Acredito
que era para ter a avaliação dos donos de Opala. De qualquer forma, esse
material é totalmente importante para confirmar o que já tínhamos visto na
Quatro Rodas: que O Povo Escolheu o Maverick.
Durante esse período, também vemos:
Jornal do Brasil 22.9.71 |
A Ford se reunindo no Centro de Pesquisas em Rudge-Ramos para analisar mais uma vez o Taunus e o Maverick.
Aqui o jornal diz que a Ford tinha preferência pelo Maverick e não
escondia isso.
Jornal do Brasil 29.9.71 |
Por outro lado, nesse jornal vemos que o Taunus é que tinha a preferência da empresa.
Veja só a vantagem que o Taunus tinha frente ao Maverick.
Lemos que o projeto MH é de fato baseado no Taunus e que a intenção de
utilizar o MH para substituir o Aero e o Itamaraty já tem mais de 2 anos! O
Taunus agradou bastante a engenharia da Ford. O Maverick só apareceu em 1971
para essa possibilidade.
A escolha do Maverick mostrou-se a correta, pois até novembro de 1974, o Maverick era o 2º melhor lançamento da indústria no Brasil, vendendo 18.353 unidades em seus primeiros 6 meses.
O Taunus não foi escolhido na pesquisa e não há como provar que teria
resultado melhor que o Maverick, além de que a decisão final foi da Ford dos
EUA.
As pessoas costumam dizer que escolheram o Maverick porque era mais
fácil fazer as gambiarras necessárias para adaptá-lo ao Brasil. Você que pensa
assim, acha que o Taunus viria pronto pra cá? Não teria que mudar nada nem
fazer gambiarra nenhuma? Falta embasamento para sustentar um pensamento assim.
Pontos fortes do Taunus e do Maverick:
Taunus:
Há mais de anos servindo como base par ao projeto MH próprio para o Brasil.
Maverick:
São 2 produtos Ford, o Taunus com seu estilo conservador e comportado e o Maverick com seu estilo despojado e rebelde.
Pois é, existiam duas fortes correntes dentro da Ford: os que queriam o
Taunus e os que queriam o Maverick, mas não como dizer que uma era mais forte
que a outra. Eu não acho que a Ford escolheu o Maverick apenas pelo gosto do
público que preferiu ele na Clínica, mas fato é que o Maverick foi escolha do
público e da Ford.
Bom, dá para revirar essa tabela de notas e cruzar com outras informações da Quatro Rodas, fazer muitas estatísticas, expandir essa pesquisa de outras formas... mas vou deixar isso para vocês ou para outra hora.
Enquanto outros sites contam a "história" sem dar as fontes, aqui nós
matamos a cobra e mostramos o pau. Estamos fazendo jus ao nosso slogan: A
história do Maverick contada como você nunca viu! E pretendemos continuar
resgatando a história do Maverick desmistificando tudo o que inventaram sobre
ele.
Essa é uma pequena amostra do acervo do Sr. Baptista. São vários documentos da
Ford como esse que vão tirar nossas dúvidas, esclarecer muitas coisas e
confirmar o que os jornais e revistas publicavam. Claro que com tudo isso,
nosso trabalho no Blog ganha ainda mais credibilidade. Estou sempre em busca de
novos documentos para comprovar o que já está publicado, pois temos um
compromisso muito forte com os fatos e a verdade.
Deixe seu comentário e sugestão sobre o blog.
Nos vemos na próxima publicação.
Ford Abraço!
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Apesar de muito se falar sobre essa clínica, os dados em si não significam quase nada. Veja que tanto Taunus e Cortina obtiveram notas gerais bem pareadas às do Opala e do Maverick, sendo que a decisão final de escolher qual carro seria produzido, acabou nas mãos da engenharia - que queria aproveitar recursos dos outros carros já em produção, para produzir o Maverick com maior rapidez. E outra, não foi uma pesquisa realmente às cegas: foram compradores do Corcel que se dispuseram a avaliar outros carros, e não um público mais geral acostumado somente a caminhões ou fuscas, por exemplo. Até mesmo as notas podem ter esse enviesamento prévio. Então, para não massacrar o ego dos mavequeiros, vou fingir que isso não existe.
ResponderExcluirSe partirmos para as considerações da mecânica, dirigibilidade, facilidade de manutenção, consumo, desempenho, espaço interno e oferta de opcionais, ficaria muito mais claro que a escolha cairia novamente entre Taunus e Cortina, com o Maverick disputando o terceiro lugar com Opala. A Chevrolet sabia bem que o brasileiro tinha predileção pelos carros de origem europeia, por terem um custo-benefício mais amigável do que as barcas estadenses com motor V8. A escolha do Rekord C foi certeira, pois casou bem com uma mecânica básica estadense, o motor de 6 cilindros chevrolet 230 e 250. A decisão por fabricar o 4 cilindros foi puramente por economia, mas outra decisão bem acertada, como provaria durante a crise do petróleo de 1973.
O Maverick precisaria desse 4 cilindros ainda no lançamento - e infelizmente o motor ficou pronto tarde demais para virar o jogo. O V8 era caro demais e o 6 cilindros antiquado demais. Quando uma nova geração de Corcel e Opala já eram pensadas para a década de 1980, a Ford já se via com sérios problemas de mercado também do Galaxie - que foram momentaneamente atenuados pelo 302 a álcool. Entretanto, ficou claro que o Maverick tinha um problema de colocação no mercado, muito mais sério do que os problemas de projeto. Um coupe fastback muito apertado no banco traseiro, e um sedan com entre-eixos mais longo do que o coupe original. A Ford tinha TRÊS carros grandes diferentes num mesmo catálogo.
A segunda crise do petróleo em 1979 pôs fim nesse produto meio sem pé nem cabeça. Nos USA, o Granada - que usava apenas a plataforma do sedan - era mais bem visto e amadurecido, o Mustang estava prestes a ganhar a nova plataforma Fox, mais leve e condizente com a pretensão esportiva do carro. Lá, Maverick e seu primo Comet já haviam deixado a produção em 1977 (os mesmo 7 anos da produção brasileira), mas ficaram com a impressão de serem apenas levemente menos piores do que o Pinto.
O Maverick foi o resultado de uma ideia certa somada a um produto errado. O desempenho e o marketing nas pistas não alavancou as vendas nas concessionárias, o que chego até a cunhar o termo de "win on sunday, lose on monday", em se tratando do descompasso entre duas realidades muito distintas. Especialmente em tempos de gasolina cara com motores V8 bebedores. Porque o GT era, realmente, um produto inalcançável e impraticável já naqueles dias. Ninguém queria um carro bacana com um desempenho "inaceitável". Viver disso é perigoso, pois é uma visão muito limitada do que significaria o sucesso comercial. Lindo no papel, péssimo na prática.
Enquanto isso, o Taunus vendeu montanhas de ferro nos anos 1980, na Argentina, usando apenas o mesmo 2.3 OHC numa plataforma mais confiável. Eles nos deram uma lição de como escolher melhor nossos produtos. Sem meias palavras.
Meu caro, a questão aqui é o resultado da Clínica. Não vem ao caso a diferença para os outros carros, nem o que aconteceu dois anos depois no lançamento do Maverick, nem o que aconteceu com o Taunus no mercado Argentino... Dizem muitas coisas sem base alguma sobre essa clínica e aqui nós trouxemos o documento oficial. Nós estamos contando a história do início ao fim, não de trás pra frente e com a inclusão de opiniões.
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