terça-feira, 10 de outubro de 2023

Naquela época...

O Maverick tem 50 anos no Brasil e ouve-se muito o pessoal mais antigo quando lembram do Maverick, dizendo: “ Naquela época só quem era rico tinha um desse”, “Naquela época ninguém queria”, “Naquela época não valia nada” “Naquela época virou moda e todo mundo começou a gostar”....

Tá, mas qual época foi essa? Não dá pra tudo isso ter sido na mesma época. Essas épocas aconteceram mesmo? E na época que estamos, como o Maverick é visto?

 

Farei uma análise dos 50 anos do Maverick no Brasil entrando no contexto de suas diferentes épocas.

Acho que podemos dividi-las APROXIMADAMENTE em 4:


1 – Produção: 1973 – 1979

2 – Inflação e Crise: 1980 – 1995

3 – Resgate: 1995 – 2005

4 – Glória: 2005 – atualmente (2023)


1 – Produção: 1973 – 1979 / “ Naquela época só quem era rico tinha um desse”

 

Um lançamento aguardado, uma propaganda enorme, foi o carro que as pessoas escolheram, era um momento de crescimento econômico... esse era o contexto quando o Maverick chegou ao Brasil. Era novo, se quebrasse, tinha outro, as peças eram produzidas, mecânicos sabiam mexer, era um carro do ano e chamava muita atenção. Era tido como o carro principal da família e seu uso era para todas ocasiões, mas de forma moderada.
Não precisava ser rico para ter um Maverick, ele era um carro médio. Rico mesmo era quem tinha um Galaxie.
Havia fila para comprar e receber o Maverick zero quilometro, pessoas compravam o carro em um estado e iam vender em outro e lucravam com isso.
As pessoas começaram a modificar a aparência e a mecânica, concessionárias tinham os seus próprios projetos com base no Maverick...
O Maverick engatou uma invencibilidade que durou 2 anos e 9 meses da Divisão 1, quebrando muitos recordes pelas pistas que corria.




 



2 – Inflação e Crise: 1980 – 1995 / “Naquela época não valia nada”

 

O país estava quebrado economicamente, o governo passava por uma grande transição, o Maverick tinha saído de linha, a crise do petróleo aumentou ainda mais a repulsa à carros com motores de grande cilindrada, a falta de peças aumentava e qualquer Maverick, Galaxie, Dodge, entre outros, mesmo em funcionamento, eram vendidos por partes, cortados e/ou desmanchados. Aumento das greves na indústria, o álcool já tinha seu espaço definido, os carros estavam mais avançados tecnologicamente, a abertura do mercado... O estilo dos carros mudou completamente e o que fosse antes disso, era considerado ultrapassado.
O Maverick tornou-se um carro usado/velho e suas características não se harmonizavam com o contexto dos anos 80 e 90.
Nesse período seu valor caiu muito e é comum histórias de carros abandonados, desmanchados, trocados por rádio, bicicleta... . É também onde surgiram os eventos de demolição de carros no Brasil, as festas de carnaval também incluíam a destruição de muitos carros.
Os anos 80 ficaram conhecidos como “década perdida”.
Em meio esse cenário ruim, pelo menos uma coisa boa aconteceu: A Turismo 5000. Era uma categoria de corrida que reunia Maverick, Dodge e Galaxie para correr no anel externo de Interlagos. As equipes utilizavam as peças e os carros que haviam perdido muito de seu valor, para disputar pegas incríveis. Foram aproximadamente 7 temporadas e o Maverick reinou absoluto, relembrando sua glória dos anos 70 e mantendo a história viva.

 











3 – Resgate: 1995 – 2005 / “Naquela época virou moda e todo mundo começou a gostar”

 

Nova moeda, menor problema com inflação, maior variedade de carros no mercado, geração que era criança ou jovem e ainda não tinha condições de ter o Maverick passaram a realizar seus sonhos, clubes foram formados, peças foram sendo garimpadas, pessoas e oficinas se especializaram em restaurar Maverick, carros de família foram passados para a atual geração, o Maverick atinge o status de carro antigo e começa a ficar, em maior parte, na mão de pessoas que gostam dele e não apenas que precisam de um carro.
Começou a deixar de ser o carro principal da família, sendo mais visto como um hobby, a realização de um sonho e um carro de passeio.
Manteve participação em corridas importantes, tanto de circuito como de arrancadas.

 


 




 

4 – Glória: 2005 – atualmente (2023)

 

O Maverick começou a aparecer em novelas, programas de televisão, filmes, tornou-se carro de promoções nacionais, passou a ter espaço em novas revistas especializadas em carros antigos, os encontros e eventos dos clubes ficaram maiores, a internet virou uma realidade e uniu as pessoas, facilitando encontrar peças e informações, a história do Maverick passou a ser estudada com mais detalhes e novas pessoas se tornaram fãs. Isso contribuiu para que houvesse um renascimento do Maverick e, o carro que havia ficado em segundo ou terceiro plano voltou com força total.
O nível de acabamento e detalhe das restaurações aumentou significativamente por meio de novas tecnologias e conhecimento.
Premiações nos principais encontros de carros antigos estabeleceram seu status de carro antigo relevante e indispensável em uma coleção.
O preço do Maverick subiu incrivelmente devido a uma série de fatores.
Seu espaço nas corridas permanece intocável e pudemos acompanhar pela internet a vitória do Maverick em diversas categorias.
Hoje o Maverick atrai a atenção de jovens, idosos e crianças pelos mais diversos motivos.

 



  

Muito bem.

 

A época do “Não valia nada” é bastante criticada, mas se era barato e “ninguém” queria, o negócio certo a se fazer, era acumular o máximo de Maverick possível. Ora, era barato para adquirir, os carros estavam inteiros precisando na maioria dos casos de pequenos reparos... Se o problema era o gasto com combustível, podia ter certeza que os preços altos não durariam para sempre. Além do mais, o Maverick sempre foi um carro valorizado, o que aconteceu é que durante um período, ele deixou de ser viável por causa do momento econômico do país e por causa das opções e evolução que os automóveis tiveram.

Quem fez isso, hoje tem oficinas enormes, histórico com corridas, conhecimento enorme sobre o carro, uma vasta rede de contatos... Quem não fez, geralmente comenta algo do tipo: “Ah, se eu soubesse que ia valer tanto hoje, não teria me desfeito do meu”.


Eu tenho um Maverick porque eu gosto muito desse carro e, sinceramente, não me importo com o valor atual dele. O valor que ele tem pra mim é o de poder usá-lo sempre que eu quiser. O dinheiro que me derem por ele não vai fazer a mesma coisa por mim.
É claro que se eu estiver numa situação complicada, não terei problemas em vender o meu Maverick ou qualquer outra coisa, isso na verdade é o certo a se fazer. O que quero dizer é que não comprei um Maverick pensando que ele vai valorizar e eu vou ter dinheiro, ou que vou fazer um negócio para ficar rico.
Fiz o maior sacrifício da minha vida para ter um Maverick e fiz isso pensando apenas em satisfazer a minha vontade. Se a gente se preocupar com o que os outros dizem, vamos acabar vivendo a vida dos outros.
Essa é a forma que eu penso e cada um pensa de uma forma. No final das contas, o importante é que você tenha aproveitado o tempo que passou com o seu Maverick.

 

O que esperar do futuro?

Há 10 anos eu ouvia as pessoas dizerem que os Maverick estavam acabando e que dificilmente se encontraria um carro bom para restaurar. Isso me causou muito medo, eu nem tinha o meu ainda, mas aí comprei o meu e nunca deixei de ver Maverick a venda e Maverick sendo vendido. Há muito carro em condições de voltar a rodar, talvez não na melhor delas, mas vai demorar muito para que não tenha mais nenhum Maverick para restaurar.

E agora, viajando um pouco na maionese, eu acredito que é para isso que estamos caminhando: o dia em que não só o Maverick, mas que todos os carros antigos estarão restaurados. Virou um grande comércio e as pessoas conseguem lucrar em qualquer situação.
Isso poderia acontecer em duas vias: o dono que restaura o seu próprio carro e fica com ele, e o comerciante que compra o carro de quem não quer, não precisa ou não pode mais ter, restaura e vende. Veja quantas rifas de carros antigos existem por aí...
Todos têm sua importância. Com o Maverick foi assim, primeiro o foco era no modelo GT, depois quanto a disponibilidade do modelo diminuiu, foi a vez do Super Luxo, depois o Super, depois os com motor 4 cilindros... em breve talvez seja a hora do quatro portas.

  

Esse é um retrato geral das muitas coisas que o Maverick atravessou nesses 50 anos no Brasil. Independentemente da época, o Maverick sempre teve seu espaço, as vezes pequeno, mas nunca passou em branco. Não é justo dizer que do nada o Maverick tornou-se um carro caro e valorizado, que é moda e essas coisas. Não. O Maverick estava ali o tempo todo, até que a sua hora chegou novamente.

Mesmo que ainda o conhecimento comum das pessoas sobre o Maverick seja muito embasado em lendas e falsas histórias, o Maverick mantem seu status de respeito por onde passa. 

É legal analisar as coisas dentro do contexto né?
Portanto, quando alguém começa a frase “Naquela época....” você já estará por dentro do assunto.

 

Veja também o resumo da história do Maverick no Brasil aqui.



Até a próxima!




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