sábado, 18 de abril de 2015

Maverick - "O carro certo para o mercado errado"

Esse título interessante e que define bem a carreira do Maverick no Brasil foi escolhido pelo Cassio Arthur Pagliarini, graduado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1980 e que cumpriu pós-graduação em administração de marketing na ESPM em 1990. Trabalhou nas áreas de engenharia, marketing de automóveis e caminhões, vendas e estratégia de produtos, culminando com a posição de diretor de planejamento estratégico de produtos e negócios, responsável pela definição de programas de produtos e plano de investimentos da Ford do Brasil. Atualmente é o gerente de vendas e marketing da Hyundai. Eita curriculo grande!

Foi esse gênio que escreveu a matéria mais incrível de todas a respeito da vida do Maverick. Sabem como ele foi parar na Ford?
Em suas palavras:

"Em 1979, converti meu carro para álcool e enviei o trabalho para uma publicação, que mandou para a Ford, e assim fui convidado para trabalhar na montadora"

Por favor Ford, leiam todo o meu Blog, acho que nem precisa ler por completo, quero tanto uma chance dessas!


Bom, voltando a matéria que se encontra na revista Autos Antigos & Foras de Série nº 27 de 1987, gostaria de mostrar a quem ainda não conhece. Venho guardando essa revista há um tempo com muito ciúme, mas já está na hora de mais pessoas saberem do seu conteúdo.

Primeiro vou contar como encontrei a revista. Eu estava no encontro de Águas de Lindóia olhando o mercado de pulga com o meu amigo Nilo e enquanto ele procurava peças, eu ia atrás de revistas raras. Após andar muito, tínhamos que encontrar também um caixa eletrônico até que apareceu uma barraca com várias revistas e fui dar uma olhada. Tinha muita revista, olhei todas, mas somente uma falava de Maverick, separei e perguntei o preço. - R$ 30,00. Logo pensei, onde está o caixa eletrônico mesmo? rsrsr eu só tinha uma nota de 20 na carteira.Ainda não tinha lido a revista, mas sabia que era rara e pra não perder a oportunidade chorei pro cara, virei minha carteira do avesso e falei do caixa eletrônico que procurávamos. Deu certo, não sei o que ele pensou, mas aceitou os R$ 20 pela revista e eu saí feliz, muito feliz. Depois foi só ler e ter a alegria aumentada em mil vezes.

Como pesquiso muito sobre a história do Maverick, tenho uma noção geral do que as pessoas falam ou escrevem por aí e pude perceber que muito disso foi baseado nessa revista. Claro que hoje infelizmente tudo está bastante distorcido, mas tenho certeza, assim como o amigo BlueMav (que comprou essa revista nas bancas em 1987 e também guarda com muito carinho), que essa revista serviu de base para tudo o que dizem sobre o Maverick.

Olha a capa aí:


Essa é uma revista muito importante, é um marco e por isso vou comentá-la com a maior atenção que eu puder. Subtitulo por subtitulo, parágrafo por paragrafo, imagem por imagem.




Essa é a primeira página, mas já dá pra perceber que será uma experiência totalmente diferente do convencional, pois as fotos utilizadas são diretamente da Ford. O que isso quer dizer? Quantas revistas fazem/faziam isso? Essa podia, e é, uma evidência de imparcialidade dos argumentos que estamos prestes a ler.
Nessa época o Cassio Pagliarini já era o diretor de marketing da Ford do Brasil e quem melhor do que uma pessoa nessa posição para falar do seu produto, o Ford Maverick?
Ele ter escrito isso é muito melhor o que alguém tê-lo entrevistado e se formos julgar sua habilidade em escrever podemos ter certeza que ficaremos muito surpresos com o que nos aguarda, pois foi por meio de uma matéria em uma revista que a Ford decidiu o contratar. Isso é maravilhoso!

Então vamos lendo. LENDO! As imagens são lindas, maravilhosas, mas se a gente não ler, não adianta nada....




Só para acrescentar, essas imagens cedidas pela Ford fazem parte dos folders de lançamento da linha 77 e de outras propagandas.

Vamos lá então:

Na primeira parte temos o breve resumo das condições da Ford e a necessidade de entrar no segmento de carros compactos, a criação do Maverick e seu desfecho nos Estados Unidos.
Tudo isso é importante para criarmos a cena da época em nossa cabeça, assim nós entramos no contexto da história.

"O Maverick no Brasil - Uma questão de ponto de vista"



Os três primeiros parágrafos mostram que a Ford estava para trás em relação a seus concorrentes no Brasil. Faltava um carro para brigar na linha dos carros médios. Mesmo adquirindo a Willys, a Ford precisava de um carro moderno no Brasil e para um novo lançamento teve que buscar em outros países um projeto pronto para resolver seu problema no Brasil. Os dois modelos disponíveis eram o americano Maverick e o alemão Taunus.

Nos próximos dois parágrafos fala-se das pesquisas realizadas pela Ford para a escolha do modelo certo para o Brasil.

Nós já vimos bastante sobre isso aqui no blog, clique aqui e reveja como aconteceu em 1970.

Cassio diz que o Taunus era o melhor, mas que na sequência do projeto surgiram problemas e o parágrafo seguinte explica quais problemas eram esses. Resumindo pelo que dá pra entender: O Maverick era o único carro que poderia ser produzido aqui no Brasil com aquelas circunstancias e naquele período.

Obs. 1: "O novo veículo deveria chegar ao mercado ainda no ano de 1973, como modelo 1974..."
Isso explica porque os Maverick 73/73 são tão, tão raros.

Obs. 2: A fábrica de motores estaria disponível em 1974. O motor 4 cilindros é que só equiparia o Maverick em 1975.




Que interessante esses três primeiros parágrafos! Foram vários erros até conseguirem por o motor 6 cilindros para funcionar. E o câmbio? Precisa mesmo de uma bússola? rsrsrs  Eu nunca dirigi um Maverick nessa configuração pra poder dizer.

E o V8? Teve os problemas que já ouvimos falar. Gostaria de chamar atenção para o capô que realmente abria em altas velocidades. Os Maverick americanos não possuem aquelas presilhas que seguram o capo fechado. Aqui no Brasil eles corriam mais? rsrsr curioso....

Deu pra perceber que se o lançamento nos Estados Unidos foi "fácil", no Brasil foi totalmente ao contrário.


No meu ponto de vista, o Maverick não chegou com o que poderia oferecer de melhor, mesmo assim era um ótimo carro para o mercado de carros médios.


Fórmula Ford contra a rotina

 

 

Vejam como mesmo trabalhando na Ford o Cássio consegue ser imparcial. Ele diz que alguns defeitos foram corrigidos e outros permaneceram. Uma pessoa parcial não diz isso, só iria puxar sardinha para o seu lado.

Obs.: Em maio foi a apresentação que a Ford realizou para os jornalistas testarem e conhecerem o Maverick, mas ele só foi lançado no Brasil no dia 20 de junho de 1973

O Maverick estava mesmo fora da rotina dos carros nacionais. Equipado com o V8, ainda mais na versão GT... era um sucesso!

Em seguida temos a explicação de chamar o V8 de "motor canadense". Hoje em dia  tem gente que acha que o "302 canadense" é uma versão mais potente do que o motor V8 "normal" do Maverick, por isso é importante mostrar e explicar todas essas questões.

Os 3 parágrafos seguintes detalham os modelos, opcionais e desempenho dos Maverick, até que o quarto parágrafo fala sobre a maldita crise do petróleo e a influência que teve sobre os carros de motores com grande capacidade cúbica. Foi nessa época que a Ford promoveu o Teste de Economia. As portas estavam abertas para o motor de 4 cilindros.


Tudo isso tornava o Maverick realmente fora da rotina. Desde sua "adaptação" ao Brasil, desde o que proporcionava/proporciona aos seus felizes donos... desde as crises que enfrentava...Com o Maverick você vive uma aventura diferente a cada dia. A rotina não é uma opção.

O novo coração


Um novo e moderno motor de 4 cilindros chegava ao Maverick assim como um pacote de atualizações nos freios, suspensão e acabamentos. A Ford investiu bastante em publicidade, mas a imagem do Maverick estava complicada de se mudar, não só a deixada pelo motor de 6 cilindros, mas também pela crise do petróleo.
Independente disso, o Maverick 4 ainda era um bom carro e capaz de concorrer com o Opala 4.




O V8 é o mais, ou talvez o único motor do Maverick que é adorado. Eu gosto muito do 4 cilindros, mesmo não tendo dirigido um Maverick 4. O meu será 4 cilindros e por mais que eu ouça muitos pedidos para colocar um V8 eu não vou abandonar o 2.3.OHC.

Deficiências



É listado algumas deficiências: Peso total, direção pesada nas manobras, espaço interno, visibilidade traseira, suspensão barulhenta e ruídos ao usar pneus radiais e freios que travavam.

Isso pode ser levado em consideração para explicar talvez as vendas que foram caindo com o passar dos anos. Hoje em dia, os Maverick devidamente restaurados não apresentam todos esses defeitos mecânicos. E também precisamos levar em consideração a concepção do carro que realmente não oferece um espaço interno como outros carros de concepção diferente.
Acho que nessa avaliação podemos dizer que é questão de ponto de vista.

Fase 2


A segunda fase trouxe muitos melhoramentos em desempenho, segurança e conforto para o Maverick e assim o Maverick atingiu o clímax de sua existência no Brasil. Demorou, foi somente em 1977/1978 que sua imagem passou a ser de bom moço. Lembrando que 1977 foi o último ano do Maverick nos EUA.

Mas no terceiro parágrafo, a bomba. O Corcel II foi lançado e sua qualidade e faróis quadrados parece mesmo ter tirado praticamente todas as vendas do Maverick.


Se você já leu bastante sobre o Maverick por aí já deve estar reconhecendo o texto não é mesmo?


A época do Maverick tinha passado. Agora eram faróis quadrados, linhas retas e finas chapas de metal que faziam sucesso nos carros.
Se não bastasse a crise do petróleo de agravou e a Ford retirou o Maverick da linha de montagem.

Obs.: O então "engenheiro e gerente de planejamento avançado de marketing da Ford do Brasil", Cassio Pagliarini diz que a produção total de Maverick no Brasil foi de 108.106 e na página ao lado nós vemos uma tabela da produção. Vamos lá:

1º: Essa tabela é a tabela padrão utilizada hoje em dia quando se fala em produção do Maverick. Mais um ponto para o Cassio.

2º: O total é de 108.106. Eu fiz uma pesquisa onde somei 108.107  , porém há um outro resultado da ANFAVEA que diz 108.237 e o Maverick de chassis numero 108.237 existe. Há quem diga que os 131 carros dessa diferença foram "destruídos" pela própria Ford em testes. Eu sonho em encontrar uma prova que ligue uma história a outra, pois por enquanto tenho que aceitar essa incerteza.

3º Percebi que quando copiaram essa matéria do Cassio, alteraram essa tabela. Acredito que por um erro de digitação, trocaram o "177" do total do GT em 1979 por "157". Até aí está mais ou menos tudo bem. O pior de tudo é quem fez a cópia da cópia não refez as contas e o erro seguiu adiante, estragando a matéria do Cassio e pior ainda, contaminando a história do Maverick com dados errados.

Há realmente um descaso quando se passa uma informação a frente. Não há interesse em saber se é verdade, o principal objetivo é ter o que mostrar e assim os fatos e a história vão se perdendo.... Eu fico triste e irritado com isso...


A fase 2 é a que mais me agrada. Com o passar do tempo a Ford foi aperfeiçoando o Maverick tanto na mecânica, quanto na estética. Não dispenso a fase 1, mas a fase 2 tem a minha preferência. 


Uma carreira de glórias no automobilismo


Aqui o assunto são as muitas vitórias do Maverick nas pistas. Você pode confirmar as informações aqui.
Esse texto todo você já deve ter lido em outro lugar completamente ou por trechos e não sabia que fazia parte dessa revista, não é mesmo?

É isso o que eu quero dizer. O Cassio Pagliarini fez um marco com essa matéria. Ele resumiu a história do Maverick que serviu de modelo para quem escreveu sobre o carro posteriormente.

E quem copiou? Ahh quem copiou sem dar os créditos fez uma coisa muito feia.... Eu fiquei decepcionado ao descobrir que a fonte era outra. Sempre imaginei que essa era a historia, ou pelo menos parte dela, do site que eu tinha lido. Eu acreditava no site, mas era tudo mentira.... É por isso que temos que intensificar nossas pesquisas em busca da verdade, para não sermos enganados com o que querem nos empurrar como verdade.


O Maverick e sua fiel torcida


Esse desfecho é ótimo!
Também estou a categoria que acham o Maverick lindo e concordo mesmo que não há meio termo. Quem não gosta realmente nos dizem que temos mal gosto. E olha que o Cassio escreveu isso há 28 anos!
O terceiro parágrafo é verdade! É até engraçado, eu mesmo estava pensando em comprar outro para tirar peças e duvido que teria coragem de vendê-lo. O Nilo, que estava comigo quando comprei essa revista tem um Maverick pra não usar e manter os 50.000km originais e um Maverick pra rodar a toda por aí.

E aí o Cassio libera o Maverickeiro que há dentro dele e descreve muito bem como "o verdadeiro dono de Maverick" pensa a respeito de seu carro. Não basta ter o carro, toda uma ideologia e comportamento está envolvido, o mais interessante é que nada disso está escrito como uma regra ou obrigação do dono do Maverick, é simplesmente uma vontade, uma paixão sem explicação que move as pessoas a agirem assim.

Não gostamos mesmo de comparações com o Opala. Quem gosta disso são os Opaleiros que assim podem ter o gosto de ver seu carro comparado a um carro completo, mas para o Maverick isso não é vantagem nenhuma mesmo.

O texto encerra-se com uma real carência do Maverick: Um Clube próprio. Eu explico. Existem clubes sim de Maverick espalhados pelo país, eles são ótimos e reúnem muitos carros, mas até hoje o Maverick não tem um Clube exclusivo e Federado no Brasil. Um carro com a história do Maverick merece uma atenção maior.

Eu tenho uma boa notícia para vocês. Estive em contato com mais pessoas e essa história do Clube está prestes a mudar. Vamos torcer pra dar tudo certo.


Concordo com o título, o mercado brasileiro não estava pronto para o Maverick, nem a Ford estava. Toda a história do Maverick no Brasil foi para mostrar e provar que ele era realmente o carro certo, o problema sempre foi o mercado.

Muito bem, chegamos ao fim dessa matéria. O que vocês acharam?
É fantástico como o Cassio demonstra sua imparcialidade durante todo o texto e no final libera sua paixão pelo Maverick. Falta isso nas pessoas que escrevem hoje em dia. Eu tendo ser o mais imparcial possível ao falar do Maverick, publico coisas aqui que muita gente que gosta do Maverick não gosta de ver, como as páginas policiais e os acidentes.
Essa matéria é um exemplo pra todos de como escrever sobre determinado assunto. Fico triste de não ter lido essa revista antes e ir descobrindo sua existência aos poucos.
Deu pra entender porque eu tinha ciúmes dessa revista? Eu só não podia ser egoísta e não dividi-la com vocês, então aí está todos esse cometários e já está disponível também no Centro de Downloads.

Conheça a linha do tempo do Maverick aqui.


Esse é o compromisso do MaverickNaHistória. Estamos chegando aos 2 anos da busca da História atrás da estória que as pessoas aprenderam de ouvido e passam adiante. Aqui a História do Maverick é contada como você nunca viu.

Muito obrigado pela visita.




FORD MAVERICK NA HISTÓRIA
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