quarta-feira, 23 de junho de 2021

Por que a Ford escolheu o motor 6 cilindros?

Uma das questões mais recorrentes no assunto Maverick é o seu motor de 6 cilindros. Pelo que vejo, alguns não entendem por que ele foi escolhido, outros já dizem que foi um erro da Ford e que não deveria ter acontecido, há também quem não questiona e gosta, tem gente que nem sabe que existe Maverick que não seja V8...

Antes de começar a entender o porquê da Ford ter escolhido esse motor, é importante que você leia essa outra pesquisa: As Proezas do Motor 6 Cilindros.

 


Muito bem, vamos voltar à 1972.

 

 

O Estado de S. Paulo 13.2.72

No dia 13 de fevereiro de 72, antes mesmo da fabricação do Maverick ser confirmada no Brasil, já havia uma discussão de qual motor o equiparia. As opções apresentadas eram a de um motor 4 cilindros, fabricado nos Estados Unidos da América. Motor esse que é dito estar em testes no Brasil. Bom, podem estar se referindo ao 1.6 ou o 2.0 utilizados no Ford Pinto, mas não há certeza. Havia também o pensamento de utilizar o motor de 6 cilindros do Itamaraty, ou um motor totalmente novo semelhante ao do Maverick americano de 2.8 litros.

Devemos sempre ter em mente o contexto. Estamos em fevereiro de 1972 agora. Nos planos, ou pensamentos da Ford, haviam 3 possibilidades. Vejamos como o assunto se desenrolou.

 

O Globo 3.3.72

Junto com a grande notícia da fabricação do Maverick, veio também a notícia da construção de uma Fábrica de motores.

 

O Estado de S. Paulo 9.4.72

Atenção!

“O motor do Maverick sairá da nova fábrica que a Ford está construindo e que ficará pronta em fins de 1974 ou princípios de 1975. O carro, entretanto, começará a sair das linhas de montagem ainda em 1973, com o motor do Aero-Willys (bastante modificado) ou mesmo importado.”

Antes o jornal disse que o motor era do Itamaraty e agora diz que é do Aero-Willys. Esse assunto nós discutimos nessa outra pesquisa. Vamos considerar como um motor da Willys, empresa comprada pela Ford.

As coisas começam a tomar forma. Ainda sem dar certeza de como aconteceria, temos aqui bem evidente que a Ford tinha opções para procurar a melhor forma de produzir o seu novo carro brasileiro.

 

O Estado de S. Paulo 9.4.72

E aqui um pouco mais da mesma informação.

Isso é relevante pois temos a ideia das especulações e contexto da época.

  

O Estado de S. Paulo 29.10.72

A Ford trabalhou muito para terminar o Maverick antes do Salão do Automóvel.

Embora sem muitos detalhes, vemos que o motor escolhido foi mesmo o 6 cilindros da Willys que passou por inúmeras modificações, transformando-se em um novo motor.

Podemos ver o investimento de tempo e dinheiro para adaptar o Maverick às condições brasileiras. Sem dúvidas foi um trabalho minucioso e sério. 

 

Diário de Pernambuco 5.11.72

Já no mês do Salão do Automóvel onde o Maverick seria apresentado, temos a notícia de que o motor de 4 cilindros a princípio não faria parte do projeto.

Poderia até estar nos planos, mas dependeria da Fábrica de Motores em Taubaté ficar pronta.

 

Ok, façamos uma breve consideração aqui.

Vimos que bem no início, a Ford considerava a sua escolha entre 3 motores (e nem falamos do 302 V8), 1 Quatro cilindros de produção nacional, 1 Seis cilindros da Willys e 1 Seis cilindros novo muito próximo do utilizado no Maverick americano.

A Ford não pegou o primeiro motor que apareceu, muito menos deixou de considerar outra opção ao nosso conhecido 6 cilindros Willys (BF-184).


No início de 1973, antes mesmo do lançamento do Maverick, já havia desconfiança sobre o motor 6 cilindros. Isso mesmo, nem tinham dirigido e já falavam mal do coitado...

 Pontos a favor da escolha do motor 6 cilindros Willys:

  • Já foi suficientemente testado e é conhecido no Brasil, não havendo problemas de manutenção, assistência técnica e fornecimento de peças.
  • O motor do Itamaraty gozava de boa fama ente seus proprietários e ex-usuários. Esta fama ia da durabilidade e resistência aos maus tratos, até a economia. Então a Ford incorporou mudanças para que essas características fossem ainda mais melhoradas.
  • O engenheiro chefe da Ford Brasil, José Bento Hucke, argumentou que haviam restado apenas 30% do motor projetado pela Willys. “Quando usado no Itamaraty já era bom. Com as 26 modificações que fizemos, está ainda melhor”.

Esses pontos foram esclarecidos na apresentação aos jornalistas promovida pela Ford. Veja mais aqui. Começa no mês de maio. 


Outro fator nesse assunto para aqueles que torcem a cara para o motor 6 cilindros é:

Tudo bem, mas no Brasil tinha o 4 cilindros, porque ele não chegou antes? O motor 4 cilindros demorou muito para entrar na linha Maverick.

Vamos analisar isso também.


Agora em 1974. A produção do Maverick estava à toda velocidade. Havia fila para comprar o Maverick e tudo saía muito bem para a Ford.

A outra linha de frente era a Fábrica de Motores que em breve seria inaugurada.

O Cruzeiro 27.3.74

Vemos que o novo motor de 4 cilindros não equiparia o Corcel e nem o Maverick (naquele momento). A explicação:

“...seria necessário outro sistema de transmissão...” “...David Towers, diretor comercial, disse que qualquer decisão da Ford dependerá de exigências do mercado, mas a nova transmissão para o motor de quatro cilindros no Maverick demandaria um ano para entrar em produção. ”

Não era só um motor novo, a Ford teria que fabricar uma caixa de câmbio compatível para ele e que servisse no Maverick. Com o prazo de 1 ano para tudo estar pronto, podíamos esquecer por enquanto desse motor no Maverick.

Veja 12.6.74

Em junho de 74, a crise do petróleo já tinha batido à porta. Talvez seja a “exigência do mercado” que a Ford precisava para se mexer.
Entretanto, mesmo com a vantagem do motor 4 cilindros nesse quesito frente ao 6 cilindros, não seria possível adiantar a sua instalação no Maverick pois toda a produção da Fábrica de Motores já estava negociada.

Nessa altura, a entrada do motor 4 cilindros na linha Maverick estava barrada pela falta de uma caixa de câmbio compatível e por falta de produção do motor para o mercado interno. 

Não era possível.

O Cruzeiro 17.7.74


 

Quatro Rodas 10.74

A revista Quatro Rodas flagrou um Maverick 4 portas com o motor de 4 cilindros em teste. Por esse trecho apresentado, podemos entender um pouco melhor como se deu a escolha do motor para o Maverick.

Eu entendo que a intenção era lançar o carro com um motor 4 cilindros, mas como ainda não havia nem a fábrica dele por aqui, tiveram que mudar de ideia.

 

Bom, mas se estavam testando o Maverick com o novo motor, significava que realmente existia a intenção de utilizá-lo. 

O Cruzeiro 9.10.74

A Ford estava correndo contra o tempo para aprontar a caixa de câmbio necessária. Já era como certa a introdução desse motor na linha Maverick.

  

Informação satisfatória? Temos alguns jornais e revistas de diferentes datas sobre o assunto, mas que tal ver uma declaração diretamente do então presidente da Ford no Brasil, senhor Joseph O’Neill?

 A revista Quatro Rodas fez uma entrevista e o assunto surgiu. Veja:

Quatro Rodas 5.75

Embora na época estivesse para acontecer o lançamento do Motor 4 cilindros no Maverick, explicações eram necessárias sobre o 6 cilindros.

O senhor O’Neill revelou que sempre quiseram ter 2 motores para o Maverick. O plano original era ter um motor totalmente novo, que seria produzido apenas para o Brasil, porém mostrou-se mais viável que a produção desse motor fosse aumentada e exportada (4 cilindros). Esse foi um fator que atrasou a instalação dele no Maverick. Por outro lado, a Ford tinha pressa de lançar o Maverick pois estava fora daquela faixa de mercado desde 1971, por isso importaram o motor de 8 cilindros. Ele ainda diz que o motor de 4 cilindros apresentou problemas nos testes com o Maverick, gerando atraso de mais de nove meses. 

Vamos analisar essa fala.

A ideia era ter 2 motores para o Maverick. Lá no início quando vimos a opções, o 302 V8 nem aparecia. Seria talvez a intenção da Ford utilizar o 6 cilindros da Willys e um novo 4 cilindros? Porque dá pra entender que só importaram o V8 pois não foi possível fazer o 4 a tempo. Já tinha pensado nessa possibilidade?

Pressa para o lançamento do Maverick... Pressa nunca é bom, mas devemos lembrar que realmente estava atrasado. O Brasil foi o último de 5 países a receber o Maverick. De fato, acredito que o Maverick era o carro certo, mas no tempo errado, mas de acordo com as circunstâncias, era isso o que dava para fazer.

O problema apresentado no teste do 4 cilindros no Maverick deve ter sido a questão da caixa de câmbio, como vimos anteriormente.

Ainda vemos a estatística de que 80 % dos Maverick tinham motor 6 cilindros. Até maio de 1975, isso representava o total de 47.096 contra 11.774 com o V8. Isso mostra que o 6 cilindros não era visto como um problema. De junho de 1975 até o final da produção em 1979, foram feitos mais 49.367 Maverick com motores 4, 6 e V8. Ou seja, o motor 6 cilindros foi o que mais equipou o Maverick no Brasil.

O entendimento mais correto da história acontece quando passamos a olhar pelo ponto de vista da Ford. Maverick ou qualquer outro carro nunca foi o centro do negócio. Nós amamos o Maverick, mas quem dá as cartas é a Ford e por isso as coisas aconteceram da forma que ficava melhor para ela e não para o Maverick. 

O “SE” não joga e ficar viajando na maionese não nos levará a lugar algum. Aqui vimos mais de perto o que aconteceu para que as decisões fossem tomadas e as coisas saíssem como saíram.

Esse papo de que a Ford não queria gastar com motor novo, de que a Ford não estava nem aí e fez o que era mais fácil, que não sabia o que estava fazendo, que foi uma decisão mal pensada... TUDO ISSO É PAPO FURADO.

Após tudo o que foi analisado, podemos resumir da seguinte maneira.

A Ford tinha pressa em lançar um carro médio pois estava sem nenhum representante desde 1971. Logo em 1971 foi realizado a Clínica onde o Maverick foi escolhido pelo público para ser o novo Ford brasileiro. A intenção era ter 2 motores para ele, um deles seria um 4 cilindros novo feito no Brasil, mas as estratégias da Ford mudaram o curso para que esse motor antes de ir para o Maverick, tivesse sua exportação como prioridade e exclusividade, além de que uma nova fábrica devesse ser construída. Então eles renovaram o motor 6 cilindros da Willys e importaram o V8 para lançar o Maverick de acordo como queriam, com 2 motores. O motor 4 cilindros e sua caixa de câmbio ficaram prontas no início de 1975 e então em junho entram na linha Maverick, tornando o 6 cilindros opcional por mais 1 ano. Por mais que a Ford quisesse fazer algo diferente, não era possível por causa das circunstâncias.

A Ford planejou, estudou seus posicionamentos, fez ajustes ao projeto inicial e seguiu em frente. O que podemos ver é que o Maverick com motor 6 cilindros foi o mais vendido, tendo sido substituído apenas por uma volta à origem do projeto e uma evolução natural do produto.


Dá pra imaginar como seria se....

Dá pra imaginar muita coisa, mas misturar a imaginação com os fatos é um perigo. 
Olha só, nem tivemos que falar da Crise do Petróleo para justificar a troca de motores.

De qualquer forma, devemos sempre agradecer por termos tido esse maravilhoso carro no Brasil. Gostando ou não do 6 cilindros, sem ele provavelmente não teríamos Maverick no Brasil para contar a história.

É isso, sempre digo que não é difícil falar da história do Maverick, o difícil é combater tanta desinformação que se enraizou nas pessoas. Essa pesquisa não foi feita para fazer você amar ou odiar este motor. O único objetivo expor o contexto e as circunstâncias que fizeram nós chegarmos até aqui.


Ford abraço!


MAVERICK NA HISTÓRIA
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