quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Maverick – A Verdade

Separando a opinião das informações incorretas passadas em um vídeo publicado no dia 28 de agosto de 2020 no Youtube, trazemos agora a informação correta com base em jornais, revistas e documentos de época.

É importante deixar claro que não há como falar sobre a história de um carro em poucos minutos ou palavras, por isso, estamos esclarecendo apenas ponto a ponto do que foi falado.

 

Fracasso / Números de produção. (No vídeo ... “Terrível fracasso”)

No vídeo, o fracasso associado ao Maverick teve base na comparação do número de vendas/produção com um concorrente.

Levantamos os dados de alguns veículos nacionais para ter uma visão mais abrangente do mercado brasileiro da época:

 

Maverick – 108.237 (em 5 anos)

Dodge Dart - 72.934

Dodge Charger - 16.198

Dodge Magnum - 2.246

Dodge Lebaron - 1.114

Dodge Polara - 55.041

Dodge 1800 - 38.652

Aero - 99.621

Itamaraty - 17.216

Gordini - 41.052

Dauphine - 23.887

DKW Belcar - 51.162

DKW Vemaguet - 47.769

VW Variant II - 41.002

Galaxie- 77.647 


Todos são fracassos?


Veja agora com relação ao principal concorrente, a produção mundial:

Concorrente principal:
Brasil: 558.022 (só considerar 2 portas e 4 portas)
Alemanha: 1.276.681 (4 anos) 

Total : 1.834.703

 

Maverick 2 e 4 P

EUA – 2.099.263 ( em 5 anos)

Canadá – 1.900.000 (aproximadamente)

México – 150.000 (aproximadamente)

Venezuela – 67.000 (aproximadamente)

Brasil – 108.237

Total 4.324.500

Obs: n° aproximado obtidos da internet, revistas e livros sobre automóveis (achamos que ambos foram sucessos) 

 


Em seu primeiro ano nos EUA, ele vendeu mais do que o Mustang e o Falcon em seus respectivos primeiros anos.

 

  

No vídeo: a Clínica ... “todos apontaram para o Taunus”

Fatos oficiais comprovam a escolha do Maverick e não do Taunus. A própria Quatro Rodas na época disse em sua reportagem sobre isso: O POVO ESCOLHEU O MAVERICK.

 

Cópia do documento original da Pesquisa encomendada pela Ford para definir seu próximo veículo para o Brasil


Cópia do documento original da Pesquisa encomendada pela Ford para definir seu próximo veículo para o Brasil

 


Quatro Rodas 9.1971


Mais detalhes: http://mavericknahistoria.blogspot.com/2018/05/clinica-de-1971-escolha-do-maverick.html

 

 

Motor 6 cilindros
No vídeo ...“o 6 cilindros Willys do Aero-Willys, do jipe não poderia dar certo”

 

A Ford optou por este motor na versão 6 cilindros pelo fato de poder ser fabricado aqui .

Outro fator positivo é que a manutenção desse motor não dependeria de grandes treinamentos da rede de concessionários. Era um motor confiável, totalmente renovado e melhorado para equipar de série o novo carro da Ford, o Maverick.

Fato: foi utilizada a base do motor 3.0 do Itamaraty que tinha quando lançado 130 HP e não o 2600 de 90 HP do Jeep, Rural, F75, Aero.
Veja o que a Ford fez com este motor 3.0 (184) antes de ser colocado no Maverick:

Press Kit Maverick Imprensa – 20.6.1973

 

O 3.0 foi usado no Maverick de 1973 até Julho de 1976
O 2.3 OHC 4 cilindros lançado em junho de 1975 sendo que o 6 continuou como opcional até o fim de sua produção.

  

Mais detalhes: http://mavericknahistoria.blogspot.com/2019/08/boletim-de-distribuicao-n129-fim-do.html

 



No vídeo, não foi falado disso:

Testes públicos realizados pela Ford no Maverick 6 cilindros:

 

Raid da Integração Nacional 1973

 

Maverick 6 cilindros, Corcel e Belina percorreram 16.755 quilômetros pelo Brasil em 24 dias sem apresentar problemas além de pneus furados e amortecedores gastos pelas estradas de terra, lama e buracos.


Diário de Pernambuco 11.10.1973


Diário de Pernambuco 21.12.1973

 

Mais detalhes: http://mavericknahistoria.blogspot.com/2013/05/1973-1-raid-da-integracao-nacional.html

 

 

Teste de Economia 1974
Falou-se ainda que o 6 cilindros era beberrão, mas vejam:

 

A Ford promoveu uma prova de economia de combustível com 2 Mavericks 6 cilindros que foram dirigidos entre outros pelos profissionais de imprensa especializada do Brasil todo, tendo sido obtido até mais de 12km / litro em trecho cidade e estrada. Na época dos Willys usados nos outros citados acima não se reclamava do consumo do combustível. Sem dúvida era um motor de concepção antiga, mas teve uma ótima participação nos carros nacionais e ( fraco desempenho, nem tanto) atingia 150 KPH.

O que foi pouco divulgado na época, é a competição entre os concessionários. Eles fizeram os mesmos testes que os jornalistas e todos alcançaram bons resultados.

  

Diário de Pernambuco 2.8.1974

São Paulo 11,215 com Oswaldo Palermo
11.570 com Aldo Pacheco –campeão

As provas foram feitas com Maverick 4 portas e com 4 pessoas na seu interior. Os 4 portas são um pouco mais pesados que os cupês portanto tem consumo de combustível ligeiramente maior. 

Diário de Pernambuco 14.9.1974

Mais detalhes: http://mavericknahistoria.blogspot.com/2013/05/teste-de-economia.html

 

 

 

Teste de resistência 1975

 

Dessa vez a Ford submeteu o 6 cilindros à 14 dias seguidos sem desligar o motor, parando apenas para abastecer. Rodaram 20.578 quilômetros:


Diário de Pernambuco 16.2.1975

 

Folha de S. Paulo 7.3.1975

 

Mais detalhes: http://mavericknahistoria.blogspot.com/2013/11/1975-teste-de-resistencia.html

 




Foi dito que o 4 cilindros também não resolveu..

Motor 4 cilindros

 

Este motor foi fabricado aqui e exportado para ser usado no Cortina, Capri, Granada, Pinto, Mustang II e ocupou o lugar do 6 cilindros com resultado em outros carros como Jeep, Rural, F75, F100.
No Brasil, o melhor motor de sua categoria, pela potência, economia e robustez. Era ainda mais econômico que o 6 cilindros. Ter substituído o motor, não foi o reconhecimento de que o 6 cilindros era ruim, mas sim de que o 2.3 OHC era bom demais. Este motor já vinha sendo produzido no Brasil há um ano exclusivamente para exportação e equipou muitos carros da Ford. Foi falado no vídeo que tinha 75 HP , o que não é verdade pois atingia 102 HP e os 99 declarados foram por questões tributárias ( a concorrência tinha 80 HP).


O Globo 6.6.1975


Folha de S. Paulo 18.6.1975

 

Mais detalhes: http://mavericknahistoria.blogspot.com/2016/09/as-proezas-do-motor-4-cilindros.html

 

 

 

Foi dito também neste estranho vídeo que o Maverick “não tinha espaço interno no banco traseiro”

Espaço Interno

Espaço no banco traseiro não é fator determinante do sucesso de um carro. Se assim fosse, o Mustang, Camaro e outros não teriam a aceitação que obtiveram.
É importante lembrar que o Maverick citado é o modelo de 2 portas. Para ainda mais espaço no banco traseiro, a Ford tinha o Maverick 4 portas e até o Galaxie. Se o principal obstáculo para venda fosse o espaço, o 4 portas seria mais vendido que o cupê, o que não aconteceu:  85.654 cupês contra 11.879 4 portas.

De qualquer forma, em 1975 a Ford promoveu mudanças que aumentaram o espaço interno. Mudanças ainda maiores aconteceram em 1977, onde o espaço e conforto do 2 portas melhorou ainda mais. Na versão cupê tinha o tamanho similar do maior concorrente conforme medições em testes comparativos feitos pela revista 4 Rodas. 

Veja:



Auto Esporte 6.1973

 

 


Comparação da Quatro Rodas das dimensões entre Opala e Maverick 2 portas

 

 

Espaço interno Maverick 4 portas

 




No vídeo :  “não tinha espaço, fraco desempenho e bebia muito”

 Desempenho / Vendas Maverick 4 cilindros

 

Com referência aos veículos similares à época, estava na mesma linha e até em alguns casos, melhor desempenho.


Teste 4 rodas:

Maverick 6 – 150 KPH igual ao concorrente
Maverick 4 – 155 KPH contra os 150 do concorrente

Ambos tinham desempenho e consumo compatíveis com outros carros nacionais da época apesar de terem em todas as versões mais peso que os concorrentes. Cerca de 150 kg a mais.

 

Diário do Paraná 7.12.1975


Mais detalhes: http://mavericknahistoria.blogspot.com/2013/10/1975-o-ano-do-maverick-de-4-cilindros.html

 

 

 

No vídeo: “ rolaram cabeças dos diretores por causa do Meverick”

No primeiro texto que ele falou sobre o Maverick, quando ele fala sobre as cabeças que rolaram, ele coloca assim: “– dizem – fizeram até rolar cabeças na diretoria da Ford”. Na época era uma estória que ele ouviu em algum lugar, agora ele já transmite a “informação” como um fato.

Quase a totalidade dos engenheiros envolvidos no processo trabalhou na FORD até a aposentadoria. Os que saíram, foram em melhores condições de salário, posição, etc, o que é normal até os dias atuais em qualquer empresa.

  

Resumindo, o Maverick chegou para completar a linha de produtos da Ford, a mais completa entre as montadoras no Brasil. O Maverick encaixava-se na faixa de carro médio com as opções:

2 portas – Carroceria fastback com forte apelo ao estilo

4 portas – Carroceria 17 centímetros maior que a do 2 portas, com formato diferente próprio para famílias e maior conforto

Motor 6 cilindros – Economia, robustez e durabilidade

Motor V8 – Alta performance e desempenho esportivo

Motor 4 cilindros – Moderno, econômico e de simples manutenção.

 

Assim, a pessoa escolhe a forma que melhor a atende. A Ford ainda oferecia luxo extremo com o Galaxie, praticidade com o Corcel, caminhonetes e Jipe para o trabalho, Belina... A Ford não dependia apenas do Maverick.

  


 


Pesquisa elaborada por: Sr. Baptista (AutoMotor), Paul W. Gregson (Autor do livro do Maverick) e Juninho Fonseca (Blog Maverick Na História)



Acompanhem a AutoMotor!




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5 comentários:

  1. Parabéns pelo material! Sua dedicação a história deste carro que tanto gostamos é admirável!

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  2. Muito bom! Tb fiquei bem chateado ao assistir o tal vídeo...

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  3. Nossa! Só essa matéria desmistificou TUDO a respeito do Maverick!

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  4. Excelente, fatos e não achismo, espero realmente que quem tenha interesse em saber a verdadeira historia passe por aqui, muita bobagem sendo dita no youtube, um fala e os outros vão repetindo, essa historia da "clinica" é a maior fake news da história do Maverick.

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