Maverick na História: Clínica

Em 1978 principalmente, vimos muito se falar de um novo Maverick que atenderia as necessidades dos consumidores. Ele estava em estudo e substituiria o modelo atual. 78 acabou, 79 chegou, a produção do Maverick se encerrou e não vimos o que aconteceu com essa ideia de “novo Maverick”.

Muito bem, trago esse assunto agora. Passei os últimos 2 meses reunindo informações que me surpreenderam bastante. O Maverick foi tirado de linha sem nenhuma chance de ter continuado? A Ford simplesmente resolveu parar a produção e ponto final?

Usam o senso comum para dizer que o Maverick foi descartado ou tratado como uma maldição e por isso chegou ao seu fim. Vamos notar ao final dessa pesquisa que tudo isso não passa de papo furado de quem não sabe o que está falando.

Quatro Rodas 11.77

O mini Ford e o novo Maverick.

Veja só esses 2 protótipos. Conseguiu encontrar algum traço de Maverick neles?

A Ford queria renovar mesmo sua linha de veículos.

Quatro Rodas 11.77

Começamos com uma informação muito importante: “As características do novo Maverick (para substituir o atual, a partir de 1979) ...”

Seguindo o padrão de 2 anos, (Estudo do Maverick em 1971 para lançamento em 1973. Estudo em 1975 do modelo 1977 e agora em 1977 estudo para lançamento em 1979) a Ford mostrava de fato que tinha interesse em continuar com o Maverick em sua linha e por isso começou os estudos de um novo modelo. Seria talvez a intenção de apresenta-lo já no salão do Automóvel de 1978?

Essa Clínica foi organizada pelo IPOM – (Instituto de Pesquisas de Opinião de Mercado) e aconteceu na primeira quinzena de outubro de 1977 na Vila Olímpia em São Paulo e teve 3 fases.

São 2 protótipos do Maverick e uma outra opção seria um “novo” Maverick feito sob a base do Ford Fairmont, o carro que substituiu o Maverick nos EUA e no México.

O protótipo Nº 1 é identificado como TT. Ele é feito com base no Corcel II, possui faróis retangulares, lanternas que envolvem os paralamas, radiador saliente, parachoques largos e cobertos por borracha e possui emblema sobre o capo como o Galaxie. Nas laterais há um friso estampado na lataria, possui quebra-vento, os vidros das laterais traseiras abrem como um leque e as maçanetas são embutidas. Na traseira as lanternas têm forma de retângulo horizontal. O interior oferecia mais espaço que o Maverick atual.

O protótipo Nº 2 é identificado como YY. Ele tem a distância entre eixos 15 cm maior que o protótipo TT. Suas linhas são bem diferentes. Os faróis são quatro, retangulares, o radiador tem frisos horizontais, o parachoque dianteiro é feito de uma lamina única, coberta por borracha preta. O relevo central do capo é menos acentuado que o outro protótipo e se inclina ligeiramente para baixo, na direção da grade.

A coluna lateral traseira forma um ângulo reto com a linha do porta malas. Há um sulco horizontal que corta a lateral do carro e as lanternas traseiras ficam encaixadas dos paralamas.

O motor é o mesmo de 4 cilindros 2.3 OHC.

Bom, essa revista é realmente uma novidade para mim, só encontrei ela agora durante essa pesquisa. Embora eu não tenha entendido muito bem, pode ser que o YY tenha sido feito com base no Ford Fairmount.

É animador que a Ford tinha um pensamento positivo para o futuro do Maverick no Brasil.

Como vimos na entrevista com o mestre Cassio Pagliarini, na parte que ele fala sobre o Cycle Plan, que é o ciclo da vida do produto, em 1979 o Maverick estaria no ponto para receber modificações mais pesadas, como novas superfícies externas (major reskin). Tudo indica que era essa nova fase do Maverick que a Ford estudava agora. O seu ciclo de vida estava fluindo.

Quatro Rodas 6.78

Assim como a edição de setembro de 1975, a Quatro Rodas traz agora novidades sobre a linha Corcel e Maverick.

Temos apenas o desenho do novo Maverick, não encontramos nenhuma foto.

Então, essa revista mostra 2 estudos para o Corcel (4 portas na “mesma carroceria” e “nova carroceria de 2 e 4 portas), e o novo Maverick com “nova carroceria” de 2 portas.

Quatro Rodas 6.78

Foco no Maverick

A pesquisa realizada pela Ford e organizada pelo IPOM – (Instituto de Pesquisas de Opinião de Mercado) aconteceu entre os dias 19 e 23 de maio de 1978 no Clube Atlético Paulistano.

O protótipo do novo Maverick ficou ao lado de um Opala de 2 portas e de um Maverick atual, os 3 na cor prata metálico.

Aqui entendemos que o “novo Maverick” era na verdade um conceito para o que poderia acontecer, pois já tinham feito um “novo Maverick”, mas agora ele aparece totalmente diferente sendo chamado novamente de “novo Maverick”.

As linhas atuais do protótipo do Maverick são parecidas com a do Corcel II, principalmente na frente e na traseira.

Basicamente o carro da pesquisa é um Maverick de 4 portas no qual foram adaptadas 2 portas maiores. A silhueta do carro foi muito alterada porque tanto o capo como o porta malas tem novo desenho com suas linhas retas. Dessa forma, ganhava-se mais espaço interno e maior área envidraçada. Ele contava com um friso largo entre as caixas de rodas, contornos das novas lanternas, e dos parachoques dianteiro e traseiro. A maçaneta e o motor 2.3 são os mesmos, mas tem novas calotas.

A frente é totalmente nova, faróis retangulares com lanternas brancas. A grade é de frisos pretos e finos com logotipo da Ford no centro. O parachoque tem linhas quadradas e é revestido com uma fita de borracha preta no centro. Há um spoiler dianteiro. O interior continuou o mesmo.

As comparações do novo Maverick eram feitas exclusivamente com o Opala.

Quatro Rodas 9.78

Mais uma etapa pela busca do “novo Maverick” que foi organizada outra vez pelo IPOM – Instituto de Pesquisas de Opinião e Mercado – entre os dias 10 e 18 de agosto de 1978 no galpão de uma igreja evangélica na Vila Pompéia.

O protótipo do Maverick identificado pelas letras KK 0000 foi colocado entre um Passat e um protótipo da GM, um Opel Rekord 2 portas.

Pela primeira vez, um Ford Granada participava de uma clínica no Brasil envolvendo o Maverick.

Quatro Rodas 9.78

O protótipo do Maverick é o resultado das opiniões colhidas nas várias pesquisas anteriores. Era a plataforma do Maverick 4 portas com as linhas dos modelos mais modernos (Corcel II e Granada). Os detalhes do carro são o mesmo que vimos na clínica anterior mostrada na edição de junho de 78.

Também participou dessa Clínica o Fairmont.

Várias pesquisas foram feitas e a Ford aparentemente vem modificando o carro conforme as opiniões colhidas durante as pesquisas. Tudo indica que utilizar a base do Maverick 4 portas é o mais correto a se fazer.

Desconheço totalmente a informação de que o Granada lançado nos EUA e na Europa nasceu do antigo projeto MH. O Granada americano chegou em 1975 e é bem diferente do europeu que teve início em 1972. O Granada que está na pesquisa é o modelo europeu. Lembrando também que o projeto MH era um protótipo com base no Ford Taunus.

A revista conclui dizendo que aparentemente a Ford quer saber agora se um novo modelo, com as linhas de estilo do Granada, terá condições melhores do que o Maverick atual de conquistar uma boa parte do mercado brasileiro.

A Tribuna 6.10.78

No mês seguinte, temos essa notícia, ou seja, nada de novo Maverick no salão do Automóvel de 1978.

Quatro Rodas 6.79

Essa revista mostra apenas o estudo que a Ford fez com base no Corcel II, não dizendo nada de novo sobre o Maverick. Vemos que o esse novo carro faz parte do Projeto Ômega.

Teriam se encerrado os estudos com o Maverick?

A Ford estava estudando 2 carros ao mesmo tempo, será que tinha intenção de lançar os 2? Será que estava procurando entre os 2 qual era a melhor opção? Se continuaram o projeto com base no Corcel II (Ômega) e não falaram do Maverick, será que já haviam decidido o que fariam?

Correio Braziliense 2.7.79

No mês seguinte...

A Ford tinha suspendido qualquer lançamento até 1981.

Além de acabar com a esperança que vimos que o novo Maverick seria lançado no segundo semestre de 79, lemos agora “o sucessor do Maverick” e não mais “o novo Maverick”.

Pra mim, isso indica que nesse momento o Maverick já havia saído completamente dos planos futuros da Ford.

Folha de S. Paulo 1.10.80

Outubro de 1980 o projeto Ômega já estava em testes.

O jornal diz que ele entra na faixa que era ocupada pelo Maverick e que iria competir com o Opala.

A Ford estava fazendo estudos com 2 carros médios. O projeto Ômega teve continuidade.

Quatro Rodas 2.81

Chegamos a 1981, o ano para o qual foi prometido um novo Ford no Brasil.

A Quatro Rodas de fevereiro de 1981 mostra o Del Rey, resultado do projeto Ômega.

Vamos por partes:

“No lugar do Maverick, um carro de luxo, confortável, de bom desempenho e com a economia do Corcel. ”

Sem dúvida, a maioria das pessoas vão entender essa frase como: “O Maverick saiu para o Del Rey entrar. O Del Rey substituiu o Maverick”.

Eu entendo que a Ford tinha 3 carros, (Corcel II, Maverick e Galaxie) quando o Maverick saiu, ficou uma vaga e agora o Del Rey entrou nessa vaga de 3 carros.

Você conhece o Del Rey? Já andou nele? É um excelente carro, mas no meu ponto de vista, não é comparável com o Maverick por vários motivos.

“O novo carro vai reforçar a faixa de mercado do atual Corcel II e vai substituir o Maverick”.

Pode parecer uma interpretação muito pessoal minha, mas eu realmente entendo e acredito que o Del Rey passou a ser o novo carro médio da Ford, cargo que o Maverick ocupou um dia. De forma alguma entendo que seja uma substituição equivalente de um carro para o outro.

“... o Del Rey deve se tornar o carro status da Ford, substituindo a médio prazo até o Galaxie”.

Cara, talvez o Fusion tenha os méritos que o Galaxie tinha. Gosto do muito do Del Rey, foi o meu primeiro carro, mas nunca chegou perto do Galaxie. E aí que está o meu entendimento novamente: O Del Rey se tornando um carro com apelo de luxo elevado e o Galaxie saindo de linha, é claro que quem quiser luxo num carro da Ford, vai atrás da única opção, o Del Rey. Mais uma vez, não vejo como substituição de um carro equivalente, apenas como um carro da mesma faixa de mercado.

A revista diz que naquele estudo mostrado na edição de setembro de 1978 o projeto já se chamava Ômega e que as pesquisas feitas eram para substituir o Maverick.

Bom...

O que nós vimos é o que a revista mostrou, é claro, e por ela, tivemos a informação de que o Maverick seria reestilizado e não substituído como ela fala agora.

Como vimos desde a edição de novembro de 1977, a Ford pretendia fazer uma grande renovação do Maverick e ao mesmo tempo um novo carro a partir do Corcel II. No final, vimos que o novo Maverick não saiu e o projeto feito com base no Corcel II (Ômega) derivou o Del Rey.

Se bem que o Del Rey é bastante parecido com o Granada, carro que chamou bastante atenção na última revista, mas que agora nem foi lembrado.

Seja lá o que aconteceu, fato é que o Maverick não foi transformado em Del Rey e que este carro não tem nada de Maverick.

A Ford não decidiu simplesmente tirar o Maverick de produção em 1979. Já em 1977 ela tinha planos de renovar ele assim como fez com o Corcel. Estudos foram feitos, mas a opção de fazer um carro médio com a base do Corcel II foi escolhida e o Maverick foi descontinuado.

Talvez, a decisão de não seguir em frente com um novo Maverick tenha sido tomada após a pesquisa de agosto de 1978, bem no mês que o Corcel II atingiu 100.000 unidades produzidas.

Vamos ver com mais detalhes?

2 protótipos. 1 15 centímetros maior que o outro, mas ambos com a base do Corcel II. Frentes e traseiras possuem novas inspirações.

Opinião: São bem “revolucionários” pois fugiram bastante do Maverick atual. Eu acho que ficaria legal a frente do YY e a traseira do TT

Carro 2 portas feito na base do Maverick 4 portas. Frente e traseira lembram o Corcel II.

Opinião: Muito legal! Ele lembra bastante o Maverick, é meio “gordo”, nada reto como os anteriores. A caída na traseira também é marcante, mas a grade e os faróis eu acho pequenos. De qualquer forma, quem olha, com certeza vai relacionar esse carro a um Maverick.

Carro de 2 portas feito na base do Maverick 4 portas. Novas linhas inspiradas no Corcel II e no Granada.

Opinião: Pra mim, parece uma fusão dos primeiros protótipos com o anterior. Só as laterais que me lembram o Maverick e mesmo assim, muito pouco.

O Maverick tinha linhas do final dos anos 60 e a maioria dos carros dessa época já tinham abandonado esse estilo em troca do que seria a sensação dos anos 80. Seria impossível fugir dos faróis quadrados, apliques de borracha, linhas retas e motores de menor cilindrada.

Nessas condições, acho completamente impossível fazer um novo Maverick com a essência do original, seria realmente um novo carro.

Foi o fim de uma era onde os carros tinham personalidade, podemos comprovar hoje em 2022 o que foi dito pelo pessoal da GM e da Ford no final de 1978: que os carros ficariam muito parecidos uns com os outros.

Eu gostaria que o Maverick estivesse sendo produzido até hoje, mas com o mesmo modelo 1979. Como isso foi e continua sendo impossível, eu agradeço que tudo aconteceu como aconteceu, pois ver um carro sem o espírito do Maverick sendo considerado sua continuação, doeria muito mais.

O Maverick no Brasil, recebeu uma segunda chance, coisa que não sabemos até então se aconteceu nos outros países onde foi fabricado. A Ford mostrava com isso que via potencial no Maverick para mantê-lo em produção por mais um tempo.

O Maverick não foi tratado com relaxo ou descaso como aqueles que não conhecem sua história gostam de falar. Sem dúvida, os motivos que fizeram com que um novo Maverick não aparecesse, eram as mudanças do mercado, a nova década que se iniciava com estilos, abordagens e interesses diferentes. A Ford evoluiu muito com o Corcel II e não há nada de errado com a decisão que tomaram.

Tudo na vida tem um fim, e o fim da produção do Maverick chegou na hora certa. Cabe a nós agora aproveitar cada momento possível com os nossos exemplares, pois há muita história ainda para escrevermos com ele.

Mas olha só, o mago dos metais, Dalto Apache está na reta final para terminar o Maverick que a Ford não fez:

Ele adaptou 2 portas em um Maverick 4 portas. Ficou demais, muito melhor que o projeto da Ford. Quando esse carro estiver pronto, vou querer ser o primeiro a ver.

Ford abraço!