quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Anos 80 - Centauro e Caderick

Ouvimos muito sobre os Maverick transformados em Centauro e Caderick, mas pelo menos pra mim, ver a revista por completo é uma grande novidade. As páginas da revista fazem parte do Acervo da AutoMotor e foi gentilmente cedida pelo senhor Baptista.




Eu só comento as revistas que chamam atenção pelo seu assunto e acredito que essa reportagem é bastante relevante, ainda mais se levarmos em consideração o contexto todo.





Era o segundo semestre de 1981, o Maverick já tinha deixado de ser fabricado e os modelos que a Ford tinha no Brasil eram o Corcel II, Del Rey, Landau, ..... Nessa época o mercado era fechado, importações eram difíceis e enquanto o resto do mundo tinha facilidade de acesso a novos carros com tecnologias muito superiores aos nossos, aqui algumas pessoas tinham projetos e inovações baseadas nos carros nacionais como uma tentativa de modernizá-los para acompanhar o que havia de melhor lá fora.
Não vou entrar em detalhes, mas nesse período apareceram vários carros nacionais com ideias bastante diferentes e interessantes. A maioria não foi pra frente e os que foram produzidos saíram em pouca escala.
Diante desse cenário, é comum e aceitável que esse tipo de transformação acontecesse, ainda mais com carros que haviam desvalorizado bastante como é o caso do nosso querido Maverick.

Com isso em mente, vamos à leitura:




Apenas 2 anos se passaram e o Maverick já era chamado de “saudoso”.


Apresentando primeiramente o Centauro, talvez o mais conhecido hoje em dia, a revista dá vários detalhes de sua aparência, mas eu vou destacar outros pontos.
O responsável pelo Centauro era o Carlos Alberto Correa, da empresa Decorauto Produções de Recife - PE
Tratava-se de uma carroceria de fibra utilizada sobre um monobloco qualquer Maverick de 2 portas. A mecânica ainda era a mesma.
A Rocar era a representante da Decorauto para a região sul e sudeste do país, situada em São Paulo, comandada por Sigesfredo Camargo Neto.


Na mesma ocasião em que o Centauro apareceu para a Revista, Shlomo Eliakim da empresa Ove Plast Industria e Comercio de Itaquaquecetuba – SP, queria mostrar o seu projeto, o Caderick.
Construído por diletantismo, o Caderick era feito todo em chapa de aço com linhas que lembram o Cadillac Seville 1980. Tinha como base o Maverick 2 portas com mecânica V8.

Interessante notar que as linhas do Cadillac Seville foram inspiradas em um Maverick protótipo, o Estate Cupe. Até mesmo um jornal comentou sobre isso. Clique aqui e veja.  

Bom, até aqui podemos entender que o Centauro estava destinado a ser produzido e revendido, enquanto o Caderick foi feito por prazer pelo seu dono e não estaria a venda.

A revista continua nos dando informações de como era a situação de um Maverickeiro naquela época: saudosos e com uma paixão muito forte por tudo o que viveram com seus carros.
Embora a revista não diga o porquê do Maverick ter sido escolhido para os projetos, fico acreditando que foi por sua estrutura e mecânica e também pelo gosto de seus projetistas.

Os carros ficaram a disposição para testes e eu acho muito engraçado ler que as medições realmente puxadas de desempenho foram evitadas porque (além de outros motivos) os carros já tinha 6 e 7 anos de idade. Ahh se eles soubessem o que a gente faz hoje com 45 anos de Maverick  kkkkk



Começa a análise do Centauro. Pelo menos por enquanto não vou comentar nada sobre aparência e desempenho.




Após a revista citar alguns problemas de projeto, preciso dizer que por mais que seja uma iniciativa de uma empresa de proporções totalmente menores que a Ford, por exemplo, esses problemas não deveriam acontecer. Testes simples como os apresentados, já teriam identificado os pontos de melhoria para que o carro não começasse a ser vendido e os próprios clientes indicassem os problemas.

Eu não entendi muito bem, mas a página 40 da revista deveria ficar no final da matéria. Ficou meio confuso, mas vamos conseguir entender.
Primeiro vamos à página 41:




Aqui temos o encerramento da análise do Centauro... ou não...

Então nós vemos qual era realmente o seu nome e mesmo depois de saber que o dono e criador o chamava de Caderick, a revista continua chamando-o de Mavillac...
O Caderick, um Maverick GT 1974 transformado, era artesanal, mas foi indicado como sendo mais macio e agradável de dirigir do que o Centauro.
Vamos ver a página 40 agora:




Ao analisar o Perfil de Mercado é que a coisa fica séria.
A revista leva em consideração o pouco tempo de produção do Maverick e a talvez, pouca quantidade de carros restantes para continuar com essas modificações.
É muito interessante esse ponto de vista. Eu concordo completamente.
Era tempo de crise (coisa comum no Brasil) e isso dificultava ainda mais as previsões. A revista fala sobre uma pesquisa para conhecer o perfil do consumidor. Lembramos aqui que as montadoras praticavam esse tipo de pesquisa para saber quais modelos lançar e ter a aceitação do público. Aconteceu com o Maverick.
Ciente dessa situação, Sigesfredo já consultava a Ford sob uma possível fabricação de 100 unidades ou mais do Maverick que seriam transformadas em Centauro.
O pessoal da Decorauto era mesmo visionário e estavam decididos a seguir com o seu projeto. Isso é elogiável. Assim como a revista, eu também não acredito que seria fácil, talvez nem mesmo possível, embora eles já tivessem falado com a Ford. Era final de 1981... mas devo admitir que hoje eu ainda fico animado com essa “possibilidade” do Maverick ter voltado ou voltar para a linha de produção.
O projeto Centauro teve início em novembro de 1979 e o primeiro carro ficou pronto em julho de 1980.
O Caderick não estava à venda. Foi feito em 7 meses como um hobby.

Onde estariam esses carros hoje em dia?





Para entender melhor, vamos para o quadro Análise de Estilo:

A revista Motor 3 levou os dois carros para serem avaliados pelo Departamento de Estilo da Ford!
Eu fiquei impressionado com isso! Imagina a alegria e tensão dos seus criadores. Ótimo! Eu queria uma chance assim para apresentar meu trabalho...
Luis Nemorino Mora era o gerente do DE e fez a análise.

Na minha conversa com o seu Luiz Hetesey Junior, falei sobre esse caso e ele disse que não lembrava, mas contou que um dia apareceu uma pessoa para apresentar um Maverick feito de madeira... ele até falou o nome que deram para o modelo, mas agora eu não me recordo... Interessante não é?

Que incrível! O gerente do Departamento de Estilo da Ford ali em pessoa dando atenção e ensinamento sobre carros baseado na criação deles! Isso não tem preço!
Ele fala primeiramente do Centauro.
Embora tenha elogiado o trabalho em fibra e a frente, apontou vários pontos que poderiam ser melhorados. O que dá pra entender é que a Ford não faria um carro como aquele.

Sobre o Caderick.
São elogiados o tema e a ideia do carro, porém a execução ficou com vários desalinhamentos e pontos onde cantos vivos ficavam em evidência. Embora lembrasse os carros americanos de 79 e 80, vários pontos desagradavam.

Se o resultado da análise agradou aos donos, a revista não diz, mas foi uma oportunidade e tanto para eles! Há uma série de pontos a serem levados em consideração numa análise como essa, mas eu achei muito bom que o senhor Luis Nemorino Mora não comparou em nenhuma vez os carros transformados com o Maverick original. Isso demonstra imparcialidade.

Voltemos agora para a parte da conclusão da matéria:
Percebam como os Maverick eram vistos no final de 1981:

“antigos Maverick, que estão sendo vendidos por todos este nosso imenso País a preço de banana, especialmente os tão desvalorizados motores V-8 – tão desvalorizados comercialmente quanto eficientes em desempenho, confiabilidade e vida longa.”

Dói no coração ler uma coisa dessas... mas infelizmente naquela época era assim. Veja o que mais faziam com esses carros nos anos 1980 

Era uma realidade triste. A crise com o preço dos combustíveis fez uma década brilhante de automóveis ser perdida, as montadoras tentavam se reinventar com carros mais leves, motores menores, linhas mais quadradas, não havia muita escolha, quem queria algo de diferente teria que fabricar.

Embora cada época seja única e deva ser vista em seu próprio contexto, alguns dos pontos levantados nessa matéria ainda são assuntos de hoje em dia, como por exemplo: Quantos Maverick ainda restaram? Nós tomamos uma iniciativa para tentar resolver essa questão criando o Cadastro Nacional doMaverick. Um levantamento que seria muito difícil de ter sido realizado naquela época.

Acreditamos que o engajamento dos Maverickeiros que assim como nos anos 1980 fizeram o inacreditável para ver os Maverick ainda em circulação, seja a força para mantermos viva a história do nosso amado carro.






Acompanhem a AutoMotor!





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