O ano de 1977 foi importante por vários motivos na
história do Maverick. Enquanto o carro melhorava e ganhava ainda mais itens, o
cenário mundial piorava grandemente com a Crise do Petróleo.
Para entender o que aconteceu e que efeitos o ano de 1977 causaram ao Maverick, teremos que analisar as notícias com muita atenção para entrar no contexto da época e conseguir “nos colocar” no lugar da Ford diante de tantas variantes que o mercado apresentou.
Vamos lá!
Jornal do Brasil 8.1.77 |
Assim como em 1974, iniciamos o ano com notícias sobre o consumo
de combustível.
Veja só, os postos de combustíveis do Rio de Janeiro
ficariam fechados nos finais de semana e a cidade mais próxima ficava há 407,4
km de distância. De acordo com o jornal, o Maverick de 4 cilindros era 1 dos 7
carros nacionais capazes de percorrer essa distância sem abastecer.
Jornal do Brasil 13.1.77 |
Visando o consumo de combustível, a velocidade máxima das
rodovias passou a ser 80 km/h.
O Jornal do Brasil foi lá na ponte Rio-Niterói fiscalizar
e acabou expondo até mesmo os carros da polícia que não respeitavam os 80
km/h.. Vemos aí a lista de todos os anotados por eles.
Jornal do Brasil 15.1.77 |
Olha que matéria importantíssima! A crise do petróleo
bateu forte no Brasil em 1974 e agora chegava em sua segunda onda.
Em 1973, o litro da gasolina custava 0,81 e agora (em 1977) passou para 4,80. Em 1976, o preço do litro era 3,60. Era tão alto, que algumas viagens, até próximas, ficavam mais baratas se a pessoa fosse de avião. Imagina....
A situação era mais ou menos igual à que vivemos hoje em
2022, não é verdade?
Diário de Pernambuco 16.1.77 |
Após um banho de água fria, uma notícia mais específica sobre o Maverick. O táxi teve início em 1976 e é muito legal ver toda essa procura por ele.
Diário do Paraná 16.1.77 |
Desde 1972 nós sabemos que a Ford exportaria os motoresde 4 cilindros, mas agora ela quer mais.
Joseph O´Neill analisou positivamente o ano 1976 e espera que todo esse trabalho tenha continuidade. Em conjunto, já negocia a comercialização de veículos montados para vários países, incluindo os tratores.
Vamos analisar um pouco mais.
Estudamos o Maverick, mas ele é um produto da Ford e é ela que toma as decisões. A Ford trabalha para que ela sempre tenha lucro, independentemente se virá da venda de motores, de tratores, do carro A, do carro B.... tudo se resume à Ford. Até o momento, o Maverick está bem cotado, mas no final das contas, o que importa é a própria Ford. Se nós não enxergarmos do ponto de vista da Fábrica, cometeremos vários erros de interpretação dos acontecimentos a seguir.
Também vemos aí como o Consórcio da Ford ia bem.
Correio Braziliense 18.1.77 |
Que situação... O racionamento era extremo. O problema
não era somente o alto preço dos combustíveis, mas a sua provável escassez.
Correio Braziliense 18.1.77 |
Os taxistas também estão preocupados..., mas quem não estaria, não é mesmo?
Correio Braziliense 18.1.77 |
Foi uma reviravolta muito grande que aconteceu muito
rápido. Em 1976 havia preocupação, mas o pessimismo deveria ser muito grande
para imaginar a situação atual.
Mais uma vez, esse tipo de coisa acontece hoje em 2022.
Carros novos não vendem, o preço dos usados subiram, carros mais velhos
continuam rodando.... Parece que vivemos em um looping.
Diário do Paraná 19.1.77 |
Para completar a tragédia, mais aumentos... dessa vez no
preço dos carros novos.
Diário do Paraná 19.1.77 |
19 de janeiro e o governo já traçou o seu plano de
racionar o uso do petróleo.
Está muito parecido com 2022.
Jornal do Brasil 19.1.77 |
O Homem está vindo aí. Mais uma passagem de Henry Ford II no brasil para tratar dos interesses da Ford com o presidente Geisel.
Correio Braziliense 20.1.77 |
Já vimos parte dessa notícia antes, mas o que é dito sobre os produtos nacionais da Ford aqui, é bem forte. Mas talvez seja um exagero, acredito que a Ford do Brasil manteria as exportações de veículos aqui em seu continente, que já seria suficiente.
E o novo Maverick GT4 ainda não chegou em Brasília. O
lançamento se deu no final de 1976 e a entrega realmente está atrasada.
Correio Braziliense 20.1.77 |
Excelente notícia. Toda linha Ford está dentro das leis
de segurança do CONTRAN. Já falamos sobre isso aqui no Blog.
Folha de S. Paulo 20.1.77 |
Folha de S. Paulo 21.1.77 |
Já vimos que limitar a velocidade dos veículos para
80km/h foi uma das soluções encontradas visando economia de combustível, mas o
leitor do jornal levanta uma questão válida.
Você já fez a média do seu carro em diferentes faixas de
velocidade?
A Tribuna 23.1.77 |
Finalmente vamos falar de fato do Maverick!
Esse ano começou pesado, ainda estamos em janeiro, mas as
notícias estão voltadas somente para a economia de combustível.
O jornal traz o Maverick LDO (luxuosa decoração opcional), um dos lançamentos para 1977.
Falando nisso, as propagandas e anúncios de lançamento do modelo 77 estão na nossa pesquisa de 1976.
Aí é dito que o teto de vinil é um dos indicadores que identifica
um LDO, mas sabemos que esse item era opcional, ou seja, um LDO podia não
tê-lo.
Devemos lembrar que a partir desse ano, o motor V8 passou a ser opcional para todos os modelos. Portanto, quando falavam em Maverick, já vinha na cabeça o motor 4 cilindros, pois era o motor de série.
Jornal do Brasil 23.1.77 |
E aqui o drama que passou a ser a vida dos brasileiros.
É uma cascata:
- O combustível sobe de preço;
- Os postos ficam menos tempo abertos;
- As pessoas não conseguem mais ir e vir sem um veículo adequado;
- O comércio fica fechado e não fatura o necessário para cobrir as contas;
- Os caminhões menores não têm capacidade de combustível necessário para atender o comercio local...
Isso já acontecia, mas poderia piorar ainda mais.
É nesse cenário apocalíptico que o Maverick estava. O que poderia acontecer?
A foto ilustra bem a situação, uma carroça no posto
apenas para calibrar os pneus.
O Globo 27.1.77 |
E o governo continua se mexendo.
Foi definido que os carros liberados para aquisição
oficial do governo devem ter no máximo 89 cavalos de potência.
A partir disso, os carros dessa faixa de potência
passaram a ser vistos como econômicos, com a possibilidade de até receberem
apoio do governo, enquanto que os carros com mais de 89 cv tornaram-se as
“ovelhas negras” da indústria automobilística.
O jornal continua dizendo que isso não faz nenhum sentido em relação à economia de combustível. E não faz mesmo. O Maverick de 4 cilindros tem 99cv e seguindo esse raciocínio, não é econômico.
Viram só como as coisas eram encaradas? Alguém definia
uma regra (ela nem precisava fazer sentido) e a partir de então as pessoas
aceitavam como uma verdade absoluta...
Os carros eram os mesmos.... O que mudou foi o preço e a disponibilidade do combustível. Qual é a culpa do carro? O Maverick 4 cilindros sempre teve uma economia de combustível elogiada, mas porque ficou definido uma regra totalmente fora de sentido, ele já não é mais o mocinho... é o maior vilão de todos.
Bom, os assuntos do governo geralmente são rodeados de
incoerências, mas eu entendo que tudo foi feito para buscar uma saída da crise,
seja utilizando uma bicicleta ou um carro. Fico um tanto irritado porque acaba
atingindo o Maverick 4 cilindros que estava ali de boa.
O que é interessante aqui é a confirmação de que os
carros realmente estavam divididos de acordo com a sua potência. Vamos ver se
aparece mais informações sobre isso mais para frente.
O Globo 27.1.77 |
Não dá pra ler muito bem....
Correio Braziliense 29.1.77 |
Agora sim!
O Maverick estava muito renovado para 1977 e o modelo LDO
era o máximo em conforto e luxo. Nova aparência externa, novas cores internas,
bancos melhores, suspensão melhor, freios, itens de segurança, pneus radiais, uma
lista enorme de opcionais.... Desde o seu lançamento, o Maverick só melhorou.
O Estado de S. Paulo 30.1.77 |
Podemos ver que o Maverick continuava sendo um ótimo
carro, porém, como vimos, se tem um outro veículo que não ofereça nada, mas que
faça pelo menos 1km/l a mais, já salta para posição número 1 na preferência do
consumidor.
A situação não era de escolher um carro bom, mas sim de
conseguir usar o carro. Era aí que carros velhos e baratos como o Gordini
tinham espaço. Tudo ficou de ponta cabeça.
Diário da Tarde 31.1.77 |
Desde o seu lançamento, o Corcel tem carregado a Ford nos números de venda. Dos 3 carros que ela possui, o Corcel sozinho faz um trabalho e tanto. O jornal fala das vendas do Corcel e do Galaxie, mas não cita as do Maverick. Mas se formos fazendo as contas com os números que o próprio jornal dá, vamos chegar na quantidade aproximada do que foi informado pela ANFAVEA em 1976, que é em torno de 21 mil unidades.
O Poti 13.2.77 |
A mesma notícia. A legenda diz que o Maverick LDO e GT tem tudo para colocar o carro entre os mais vendidos da Ford.
Você duvida? Aí é que está... é o estágio de melhorias mais
avançado que o Maverick atingiu no Brasil, mas o consumidor agora está
preocupado (com toda razão) com carros que fazem mais de 15km/l... então as
chances do Maverick, mesmo super atualizado, não são as melhores.
A qualidade do Maverick não tem nada a ver com a escolha da compra. Infelizmente.
A Tribuna 16.2.77 |
A declaração da Conceição é um tanto quanto vaga... de
qualquer forma, vamos ver como isso se desenrola.
Correio Braziliense 17.2.77 |
Já assistiu Mad Max né? É um filme obrigatório rsrsr
O furto de combustível dos carros parados na rua começou. Falamos um pouco sobre isso em outra ocasião aqui no blog.
Olha só, é permitido abastecer somente o tanque original
do seu veículo. Como o Alfa Romeo tem capacidade para 100 litros, é provável
que sua procura aumente, somente por esse fato.
Essa é a necessidade dos consumidores. Se uma montadora pegasse duas bicicletas, soldasse uma na outra, colasse um motor de cortador de grama e um tanque grande de combustível, bateria recorde de venda.
Toda aquela linha de argumentação de venda e oferta de
produto que vinha sendo empregada até 1976, perdeu toda sua força devido à
crise do petróleo.
Correio Braziliense 17.2.77 |
A entrada dos pneus radiais no Maverick exigiu um
retrabalho na suspensão, resultando num conjunto muito mais agradável e seguro.
Era realmente a melhor opção de compra do que utilizar os pneus comuns.
A Tribuna 20.2.77 |
Mais uma melhoria para o modelo 77. Bancos com regulagem micrométrica, mais conforto, melhor ergonomia e ocupando menor espaço no carro.
1977 foi o ano que o Maverick se despediu do mercado dos
outros países, mas enquanto isso no Brasil, recebia melhorias atrás de
melhorias.
Folha de S. Paulo 25.2.77 |
Olha aí o “depoimento” de um ex-dono de poso de
combustíveis para alertar a quem possa interessar.
Começando outra contagem, agora para falar como o cliente
pode ser roubado:
Conferindo se a contagem da bomba está zerada no início do abastecimento.
Principalmente com carro onde a boca do tanque é na
traseira, como o nosso Maverick, desça para acompanhar o trabalho do frentista,
pois ele pode colocar a sua gasolina em um regador ou balde e se necessário,
para despistar qualquer evidencia, jogará a gasolina dentro do seu radiador.
Óleo lubrificante, você paga mais caro por um produto
melhor e é colocado um produto totalmente inferior.
Melhorar o sistema de fechamento das tampas de combustíveis, pois há roubo direto do tanque também.
Esse cara é um herói! Assinou e colocou o endereço dele.
Veja que ponto as coisas chegaram. Estava no mesmo nível
do filme Mad Max (que foi lançado em 1979).
Jornal do Brasil 26.2.77 |
Manchete 26.2.77 |
Maverick!
Essa propaganda é uma das minhas favoritas. Eu nem
precisei chegar perto do Maverick para gostar dele, comecei a gostar após vê-lo
na televisão rsrsr
Diário de Pernambuco 27.2.77 |
Correio Braziliense 1.3.77 |
O mercado de carros usados de Brasília está vivendo uma
história diferente a cada dia.
Fato é que carros de grande porte como Galaxie, Maverick,
Dart, Charger, Veraneio e outros têm perdido muito espaço. O Valor do R/T caiu
quase pela metade em 5 meses. Nem mesmo os carros pequenos estão tendo saída. A
crença é que para não vender por pouco, os donos acabam não trocando de carro e
assim ninguém compra e ninguém vende, retraindo cada vez mais o mercado.
Correio Braziliense 2.3.77 |
Olha a Belina aí!
Veja bem, o que realmente estava vendendo era a linha Corcel. Mesmo assim, a Ford manteve o segundo lugar no quadro geral de vendas das montadoras nacionais.
É o que eu falei lá no começo. A Ford continua “bem”, e é
esse o ponto de vista que deve ser observado.
Poderíamos dizer assim: “Ah, mas e se a Ford colocasse o
motor do corcel no Maverick? Seria econômico e ia vender mais”. “Ah, mas era só
reduzir o preço do Maverick que as vendas iriam aumentar”. Mas esse seria olhar
pelo ponto de vista do Maverick. Está errado, não leva a nada.
O Maverick estava com um desafio enorme à sua frente e
teria que se virar para enfrentá-lo.
Diário da Manhã 7.3.77 |
Custa mais, consome mais, porém oferece muito mais
segurança e conforto do que qualquer outro carro menor. O Maverick já estava no
patamar necessário, a visão do consumidor que não enxergava mais isso, ele buscava
apenas uma forma de não depender mais de carro ou ter o carro mais econômico
possível.
Como vimos, quem se beneficiou disso na Ford foi o
Corcel.
Diário de Pernambuco 13.3.77 |
Esse banco realmente veio para ficar. Seria utilizado
mais pra frente em outro modelo...
Folha de S. Paulo 13.3.77 |
A Ford ajudava no financiamento e isso valia para os seus
3 modelos, mas com a situação da crise, fica muito melhor com o Corcel dando as
caras na propaganda.
Correio Braziliense 16.3.77 |
A Ford mexeu também em seus carros para aumentar a eficiência de consumo de combustível. Maverick e Galaxie tiveram as relações do diferencial “alongadas”, já o Corcel eu não sei dizer exatamente o que foi feito.
Podemos ver que a Ford estava na briga. Modificou os
carros, definiu taxas de financiamento melhores...
Folha de S. Paulo 16.3.77 |
O Japão se une agora à Argentina, Alemanha e Canadá como
país cliente que recebe os motores Ford 2.3 OHC.
A Fábrica de motores em Taubaté seguia como uma fonte
importantíssima de recursos para a Ford.
Isso mostra que o lucro da Ford do Brasil, não dependia
somente dos seus veículos.
Folha de S. Paulo 17.3.77 |
Texto interessante.
Essa análise traz uma visão bem abrangente do que poderia
estar ocorrendo.
Resumindo:
Há falta de combustível; se muitos carros forem vendidos,
mais combustível será necessário; esse cenário não é interessante para o governo.
As fabricantes precisam de lucro; como lucrar sem aumentar a produção?
Aumentando o preço dos veículos.
De fato, é isso que parece mesmo estar acontecendo.
Os pneus radiais também contribuíam para a economia de combustível.
Agora essa “solução” que a Chevrolet encontrou, não é
solução alguma né?
Essas modificações deveriam ser muito, mas muito
divulgadas para “recuperar” a “confiança” nos carros novos...
Folha de S. Paulo 23.3.77 |
Pronto, aqui estão as modificações com mais detalhes.
A Tribuna 27.3.77 |
Descontos. Mais uma ação dos revendedores para conseguir
vender. O Maverick tinha desconto de 5%.
E veja só, a opção para os Dodge e Galaxie, aparentemente
passaram a ser Opala e Alfa Romeo (ambos com 4 portas, creio eu).
O mercado estava se reajustando... Era um período incerto
e olha que estávamos apenas no final de março ainda.
O Estado de S. Paulo 27.3.77 |
Todos os preços já com o aumento
Diário de Pernambuco 10.4.77 |
Jornal do Brasil 13.4.77 |
Aqui nós vemos uma outra divisão dos carros utilizados
pelo governo. Continuam separados pela potência, mas dessa vez o limite em
comum são 99 cavalos.
Folha de S. Paulo 24.4.77 |
O óleo de motor vem do petróleo e também precisa ser
economizado.
Como vimos na matéria, o óleo sempre aguentou 5.000 km,
mas algumas montadoras e frentistas recomendavam a troca a cada 1.500 km.
Maldade ou não, dá pra ver que esse tipo de controle e
cuidado com as especificações e uso dos carros era bem precário. A crise fez
com que o óleo fosse utilizado por mais tempo e dentro do seu limite de vida
útil.
Folha de S. Paulo 26.4.77 |
A crise do petróleo existe e afeta o mundo todo. O que o
presidente do Sindicato Nacional da Industria Automobilística diz, é que a
indústria não está em crise. O motivo para os carros não estarem sendo vendidos
no mesmo ritmo de antes é exatamente a alta dos preços dos combustíveis e
lubrificantes.
A Ford demitiu 500 funcionários para equilibrar o seu
ritmo de produção com a demanda de mercado. Vejam só quem era o presidente do
Sindicato... o Lula.
A história é longa e virou uma preocupação geral. A Ford precisava
mandar embora ou reduzir a jornada de trabalho porque tinha mais gente do que o
necessário visto que as vendas estavam baixas. Os funcionários acham que devem
ter garantia que nunca serão demitidos...
A Ford encaminhou uma proposta para manter o emprego de
seus colaboradores, mas o sindicato respondeu por eles sem nem mesmo
consultá-los.
O que fica realmente de importante para analisarmos é que
de janeiro a abril, a Ford já havia demitido 1311 funcionários.
Mais um evento que lembra os nossos dias... Em 2020 no começo da pandemia, as empresas tiveram ordem do governo de reduzirem a jornada de trabalho para baixarem seus custos e evitar demissões.
Eu acredito que ter passado (estar passando) pela mesma
situação que aconteceu em 1977 nos ajuda ainda mais a entrar no contexto e
entender de uma vez o que acontecia com o mercado, a vida das pessoas, a
preocupação com o futuro, o governo...
Não sei quando você vai ler isso, mas quem for dessa
geração que viveu o período de 2020 até pelo menos hoje (2022) e não conseguir
entender de forma mais abrangente os fatos de 1977, então talvez mais nada o
faça entender...
Folha de S. Paulo 27.4.77 |
E os preços dos carros subindo...
Jornal do Brasil 28.4.77 |
Ok, vamos ver de perto o Maverick.
O modelo 77 atendeu às expectativas do teste executado. Foram
vários elogios para o estilo, segurança, potência, conforto e frenagem.
Mesmo assim, ponto “negativos” sempre aparecem. Dos 5
pontos, eu não concordo com nenhum deles, mas entendo que são itens que podem
incomodar mais algumas pessoas do que outras.
E aí temos também a lista do que mudou do modelo de 1976
para o atual de 1977. Foi o refinamento daquilo que já funcionava bem e agora
passava a funcionar ainda melhor.
Manchete 30.4.77 |
Veja 4.5.77 |
Aqui! Quero muito falar disso.
Vejam que a tabela mostra que de 16 carros, apenas 3 deles venderam mais no primeiro trimestre de 77 do que o mesmo período de 76.
Quando falam por aí de crise do petróleo, passam a
impressão de que SOMENTE o Maverick sofreu com isso. É claro que NÃO É VERDADE
e essa tabela mostra que o mercado em geral estava em dificuldade.
Folha de S. Paulo 11.5.77 |
Veja só!
A utilização de plástico nos automóveis já havia
acontecido com o objetivo de baixar o custo para o cliente final, mas agora,
vão aumentar a quantidade de plástico para deixar os carros mais leves e
conseguir melhor consumo de combustível.
Viu como a crise do petróleo mudou tudo?
Folha de S. Paulo 18.5.77 |
500 mil motores em 3 anos!
A fábrica de motores em Taubaté estava à todo vapor com a
produção 4 cilindros 2.3 OHC.
O Canadá ficou com 308.433 unidades, a Argentina com 43.136, Alemanha 36.719 e o Japão com 18.912.
Excelente!
O Estado de S. Paulo 27.5.77 |
Aqui temos o complemento que 92.800 motores foram utilizados
aqui mesmo no Brasil, divididos entre Maverick, Jeep, Rural e F-75. Na F-100 também.
Jornal do Brasil 6.6.77 |
Carros sendo abandonados nas ruas...
O jornal não traz o motivo, mas que situação triste para
nós...
|
Mais um forte golpe. O legislativo e o Judiciário do Rio de Janeiro não poderão mais utilizar carros “antieconômicos”. Estão incluídos nessa: Maverick V8 e Galaxie.
O Estado de S. Paulo 25.6.77 |
O Maverick atingiu 100.000 unidades produzidas no Brasil!
Olha que legal, era só ir na concessionaria, preencher um
formulário, testar o Maverick que você já ganhava uma câmera fotográfica.
Infelizmente não temos mais detalhes, como modelo e cor
desse carro...
|
Isso é interessante. O Maverick, Galaxie e Corcel
receberam muitas atualizações que melhoraram o desempenho. Vamos ver como esse
assunto se desdobrou.
|
A Tribuna 3.7.77 |
Agora o Maverick 4 cilindros terá câmbio automático.
O acionamento poderá ser tanto no assoalho (bancos
individuais) quanto na coluna de direção (banco inteiriço).
O câmbio automático está disponível para todos os
modelos, inclusive o GT.
Diário de Pernambuco 3.7.77 |
Com o aumento dos preços, as vendas de carros novos
tendem a cair. Carros com pouca saída como o Opala e o Maverick continuam sendo
ofertados à preço antigo.
Crise geral!
Correio Braziliense 5.7.77 |
Essa notícia é dura...
As vendas do Maverick baixaram muito..., mas a Ford não
sentia tanto pois o Corcel segurava as pontas com bons números de venda.
|
Comparação entre os carros nacionais com os carros
similares americanos e europeus.
O Brasil sempre ficou atrasado. As melhorias feitas lá
fora não chegavam aqui com tanta velocidade, por isso o título da reportagem.
Sobre o Opala, é dito que o modelo com o motor 250S deixou de ser fabricado por que o conjunto chassis-motor-suspensão não era adequado para a potência do motor.
Faz sentido, mas como falaram algumas coisas incertas
sobre o Maverick, eu vou deixar esse ponto como dúvida.
Em 1977, o Maverick americano se diferenciava do brasileiro apenas pelo para-choques.
De qualquer forma, vemos que não é de hoje que se paga
caro nos carros aqui no Brasil. Pelo valor pedido, eles deveriam oferecer muito
mais que fazem. Enfim, cada mercado tem a sua característica e pelo jeito vamos
continuar assim por muito tempo ainda.
Diário de Pernambuco 16 e 17.7.77 |
Jornal de Caxias 16.7.77 |
Automático, hidramático.... é aquele cambio que troca
marcha sozinho rsrsr
Folha de S. Paulo 19.7.77 |
Esse jornal é excelente!
Traz todas as novidades dos modelos 77. O LDO é sem
dúvidas a maior atração.
Podemos ver novamente que o Maverick atingia o mais alto
nível de acabamento, segurança, desempenho, economia e conforto desde o seu
lançamento. A Ford não parou de investir nele.
Correio Braziliense 25.7.77 |
Importante! Os carros oficiais somente poderão ter no
máximo 99 cv de potência. Anteriormente, o limite era 89 cv, que incluía o
Opala 4 cilindros, depois passou para 99 cv, abrangendo o Maverick 4 cilindros.
Era o fim dos V8 de uso no serviço público. Tudo por
causa da crise do petróleo.
O jornal continua dizendo que os automóveis pagam imposto de acordo com sua potência em cavalos, quando na verdade deveriam ser taxados pela sua cilindrada.
Enfim, havia muitos empecilhos e custos para comparar um carro que tivesse mais de 99 cavalos.
Correio Braziliense 25.7.77 |
Aí está um teste do jeito que eu gosto: Imparcial e honesto.
Eram novos tempos... de esportivo, o GT 4 só tinha a aparência mesmo. (Leia aqui o qual é significado puro de “GT”) O consumidor queria ter um carro esportivo por fora e que gastasse pouca gasolina por dentro rsrsr. As montadoras encontraram essa solução e colocaram no mercado.
Palmas para o GT4!!!
O Estado de S. Paulo 5.8.77 |
Teste com um Super Luxo 4 cilindros automático com o
interior azul.
Outro bom teste. O Maverick mostrou ser melhor para as estradas do que para a cidade, mas no final tudo se resume a questão do gosto e da utilização que o motorista pretende.
Eu ainda não dirigi um Maverick automático...
Correio Braziliense 8.8.77 |
Confira aí a tabela FIPE de carros usados de 1977.
Os preços do Maverick estavam um tanto quanto baixos....
Diário do Paraná 14.8.77 |
Olha que interessante e curioso.
Vemos há pouco que o Maverick havia atingindo as 100.000
unidades produzidas no Brasil.
Agora esse levantamento de carros circulantes no país
feito pela Fiat, mostra que haviam 86.400 Maverick em atividade.
E os outros 13.600 Maverick???
Jornal do Brasil 23.8.77 |
O Maverick segue no Brasil, ciente que já viveu dias melhores de vendas. Já nos EUA, ele deixará de ser fabricado este ano.
Manchete 10.9.77 |
Eu testei e acertei o resultado. As pessoas que não
entendem parecem ser as que mais gostam de comentar, por isso que não adianta
explicar muito... quem está do outro lado também precisa ter a capacidade de
entender o que foi dito. Entender é essencial, se a pessoa vai concordar ou
não, é outra coisa, mas entender... está cada dia mais difícil....
Vou destacar os itens que fazem do Maverick 4 cilindros um carro econômico:
MOTOR
4 cilindros, 2.3 OHC
19 peças a menos que os motores convencionais
Dispensa regulagem de válvulas
Troca de óleo a cada 10 mil Km
Projetado para melhor rendimento, aproveitamento,
economia e menor poluição
SUSPENSÂO
Macia e estável
Projetada para pneus radiais que são muito mais duráveis
e seguros. Quando você usa pneus radiais em um carro sem suspensão especial
para ela, todas as trepidações da via são transmitidas para os ocupantes.
CARROCERIA
Construção super reforçada
Em caso de choque, se deforma para absorver impacto
Passa por uma série de etapas para proteger as áreas mais
sujeitas à corrosão.
Isolamento acústico
Travessas do assoalho e as soleiras das portas são feitas
de chapa galvanizada
SISTEMA ELÉTRICO
Circuito impresso
O interruptor de ignição é acionado de uma forma que
impede que a chave se quebre
PORTAS E VEDAÇÃO
As portas são abertas e fechadas 80 mil vezes em testes
Vedação perfeita
DIREÇÃO
Leve e suave
Reduz as vibrações do volante ao percorrer estradas mal
pavimentadas
FREIOS
Freios a disco dianteiros ventilados
Circuito duplo
EMBREAGEM
Não patina e dispensa regulagens
Quanto mais exigente você for, melhor para o Maverick.
Essas características fazem o custo de manutenção ser
mais baixo em relação aos carros que tem concepção mais antiga.
Economia não depende apenas de quanto combustível o veículo gasta. Nesse quesito, o Maverick 4 cilindros faz em média 10 km/l, o que é ótimo para um carro médio das dimensões dele.
A Ford dizia para o comprador verificar por ele mesmo
cada detalhe do Maverick que ele ia entender que o Maverick era uma ótima
escolha. Eu não sei se isso funcionou como a Ford queria na época, mas eu sei
que achar que a pessoa sozinha vai compreender esse tipo de coisa, é ser muito
otimista. Está cada vez mais difícil encontrar pessoas que primeiro analisam os
fatos antes de formarem sua opinião... É a vida...
Manchete 26.11.77 |
Diário da Manhã 27 e 28.11.77 |
A Ford tem uma gama de produtos e com isso vem faturando
muito bem.
Já são 168,4 milhões de dólares em exportações. Esse ano, a Brasil Export será no Brasil mesmo e a Ford mostrará todo seu catálogo de produtos.
Temos aí a tabela de preços.
Eu acredito que eles se referem aos carros com motor 4
cilindros, visto que o V8 era opcional.
Folha de S. Paulo 30.11.77 |
Essa matéria é essencial! Uma retrospectiva que mostra o contexto do mercado automobilístico em 1977.
A produção de 1977 foi quase 10% menor do que 1976.
As dificuldades atingiram quase todos os países.
Vários salões internacionais foram cancelados.
Os preços dos carros novos subiram de 1973 a 1977 215,9%
contra 284,9% da inflação. Isso significa que os carros custam menos que em
1973 no Brasil, enquanto na Alemanha, Itália, França, Inglaterra e Estados
Unidos custam mais do que 4 anos atrás.
A crise fez com que aparecessem novos modelos,
modificações de estilo, aperfeiçoamentos visando diminuir o consumo.
O Corcel II chegou enquanto que as vendas do Maverick e
do Galaxie caíram.
Os consumidores estão mais exigentes e por isso formaram
fila para comprar o Corcel, que vinha totalmente renovado.
As montadoras mudaram alguns de seus carros, mas o
Maverick e o Opala continuam os mesmos, o que gera uma pressão para que recebam
alteração em breve.
Folha de S. Paulo 9.12.77 |
Essa tabela é interessante.
As vendas do Maverick e do Galaxie não iam bem como antes, mesmo assim a Ford teve um crescimento de vendas de outubro para novembro, puxado sem dúvidas pelo lançamento do Corcel II.
Jornal do Brasil 20.12.77 |
Taxa Rodoviária Única. O antigo IPVA.
Hoje em dia, o imposto é pago de acordo com o valor do
veículo. Antigamente, o valor é tinha base na potência do motor.
Para ter um Maverick 4 cilindros, a taxa era de 3.600,00. Já um V8, subia para 6.000,00. Fazia bastante diferença, não é?
Tabela muito interessante.
O Estado de S. Paulo 23.12.77 |
Quase que um bate papo sobre as montadoras e os carros sob
a visão da época (é claro).
A visão que eles tinham do Maverick:
“Razoavelmente econômico (combustível), confortável para quem vai à frente, impressiona pelo tamanho externo e estilo fins de sessenta. É carro muito forte e resistente, que aguenta estradas ruins de maneira surpreendente. Seu maior problema é ser grande por fora e pequeno por dentro. ”
Muito bom, não é? Lembrando que o Estado de S. Paulo faz teste de todos os carros e com isso possuem um conhecimento enorme do que estão falando.
Esse era o contexto de 1977. Separei os principais fatos que analisamos aqui:
- Postos de combustível ficariam fechados nos finais de semana;
- A velocidade máxima das rodovias passou a ser 80 km/h;
- Em 1973, o litro da gasolina custava 0,81 e agora (em 1977) passou para 4,80. Em 1976, o preço do litro era 3,60. Era tão alto, que algumas viagens, até próximas, ficavam mais baratas se a pessoa fosse de avião;
- Além de pagar pelo combustível, você tinha que pagar para poder abastecer;
- Os pedágios das estradas e a taxa para poder abastecer, tornaram-se as principais razões da queda de vendas dos automóveis;
- Até mesmo o Gordini voltou à cena, devido ao seu baixo consumo de combustível. Antes da racionalização do governo, ele valia 8.000,00 e agora é vendido por 15.000,00. O vendedor que está há 18 anos no ramo, nunca viu algo do tipo acontecer.
Uma coisa puxa a outra:
- O combustível sobe de preço;
- Os postos ficam menos tempo abertos;
- As pessoas não conseguem mais ir e vir sem um veículo adequado;
- O comércio fica fechado e não fatura o necessário para cobrir as contas;
- Os caminhões menores não têm capacidade de combustível necessário para atender o comercio local...
- Foi definido que os carros liberados para aquisição oficial do governo devem ter no máximo 99 cavalos de potência;
- Era permitido abastecer somente o tanque original do seu veículo;
- Havia roubo no momento do abastecimento;
- A crise fez com que o óleo lubrificante fosse utilizado por mais tempo e dentro do seu limite de vida útil;
- O motivo para os carros não estarem sendo vendidos no mesmo ritmo de antes é exatamente a alta dos preços dos combustíveis e lubrificantes;
- Vão aumentar a quantidade de plástico para deixar os carros mais leves e conseguir melhor consumo de combustível;
- Consumidor ficando irritado com o preço dos carros que já não oferecem tantas mudanças e vantagens que justifiquem o valor;
- Os automóveis pagam imposto de acordo com sua potência em cavalos;
- As dificuldades atingiram quase todos os países;
- Vários salões internacionais foram cancelados.
Seja sincero, você acha que esse ambiente era propício
para um carro? E se você precisasse de um carro, qual a principal
característica você exigiria dele?
É como falei, o Maverick nunca esteve tão bom, mas um
Gordini, por exemplo, era muito mais barato, ia e voltava e gastava bem menos
gasolina. Não importa que ele não oferecia nem 1/3 das vantagens do Maverick,
as pessoas pareciam não se preocupar mais com isso, ou até mesmo não conseguir
mais sustentar isso, já que o preço de tudo relacionado aos automóveis havia
subido bastante.
Em 1976 foram produzidas 21.287 unidades do Maverick.
Em 1977 foram produzidas 6.499 unidades do Maverick.
O Corcel II foi uma evolução do modelo anterior, ele
manteve o nome, características mecânicas e tal, mas eu tenho pra mim que ele
poderia ser considerado com um carro novo, pois mudou completamente sua
aparência externa.
O Globo 18.4.77 |
Nós vimos aqui uma clínica de 1975 que mostrou que o Corcel II não mudaria muito o mercado e as vendas da Ford, mas no final de 1977
as coisas mudaram e o seu lançamento atendeu exatamente o que o consumidor
queria naquele momento.
Agora o Corcel II tinha espaço interno para brigar com o
Maverick, economia de combustível para brigar com o Fiat 147 e visual muito avançado
que superava os outros.
Dizer que o Corcel matou o Maverick ou que a Ford matou o
Maverick com o Corcel é muito errado. O mercado que abraçou o Maverick lá na clínica em 1971 já não era mais o mesmo por todos esses motivos que listamos
acima. Era de se esperar que os carros atuais precisariam se atualizar para
continuar sendo bem vistos.
Devemos frisar que a Crise do Petróleo não atingiu somente o Maverick. Todos os carros médios e grandes com motores de 6 e 8 cilindros passaram por dificuldades. Isso inclui Opala, Charger, Galaxie, caminhonetes... . Foi geral.
Talvez tenha sido a partir dessa época que os carros
começaram a ser vistos pelo que gastam e não pelas coisas positivas que oferecem.
Faça um teste, pergunte para um amigo o que ele acha sobre comprar um carro X, uma Zafira por exemplo. Muito provavelmente ele vai falar só ponto negativo (sempre relacionado a gastos e custos) e no melhor das hipóteses, vai deixar para falar os pontos positivos por último.
Hoje em dia, nós escolhemos comprar o Maverick mesmo sabendo que está cada vez mais caro, cada vez mais difícil de encontrar, cada vez com menos assistência especializada... É pura questão de gosto, nós nos preparamos para esses gastos e na maioria das vezes não dependemos apenas do Maverick para ir e vir, mas na época em que eles eram novos, o gosto pelo carro contava muito pouco, como vimos, o foco estava em gastos. Não importa que o Maverick tinha gastos em bons níveis, o que importava é que tinha carros com níveis ainda menores, porém sem oferecer praticamente nada além disso.
A queda das vendas do Maverick nunca foi por motivo de qualidade e isso ninguém pode negar, assim como também dizem que foram por motivo de espaço interno, visibilidade traseira, tamanho... balela. O Maverick era o mesmo, foi o mercado que mudou.
O Corcel II é um produto Ford e fazia parte do mesmo time. Com ele, a Ford obteve ótimos resultados em vendas. Já o Maverick tinha caído bastante nesse ano, além do mais, o Brasil seria o único dos 5 países a continuar a sua produção.
As pessoas costumam atrelar o número de vendas com o sucesso. Podemos ver, agora com todo esse contexto, como é errado fazer isso. É a mesma coisa que o governo achar que está economizando combustível por limitar a velocidade a 80km/h.
Tudo isso é visto por mim como um processo natural. O que é triste, é ter acontecido tão depressa.
Enfim, os fatos e argumentos estão aí. Espero que ao
menos essa pesquisa tenha servido para entender que a Crise do Petróleo não se
limitou ao consumo de combustível. Foi uma época terrível que gerou impactos em
todo o mercado de automóveis.
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