quinta-feira, 7 de março de 2019

1975 - Clínica II, o futuro do Maverick

1975 foi um ano bastante movimentado. A Ford estava com foco na recuperação das vendas do Maverick e também pensando em seu futuro.
Devemos lembrar que a clínica que escolheu o Maverick, aconteceu 2 anos antes de seu lançamento. A que veremos agora teve seu resultado no mesmo período (1977). Mas o foco é 1975 e este acontecimento foi um divisor de águas para o Maverick. 
Antes de ver as fotos, vamos começar entendendo melhor como aconteceu a Clínica. Lembrando que é importante ter lido as outras pesquisas dessa série para que o seu entendimento seja completo. Veja aqui.

Essa é a 4ª parte da série sobre as mudanças que ocorreram durante 1975.

Quatro Rodas 10.75


A matéria fala do Corcel e do Maverick, mas vou separar somente a parte do Maverick.



Quatro Rodas 10.75

As vendas do Maverick caíram mais da metade se comparado ao mesmo período do ano anterior. Mudanças tinham que acontecer.
Lemos as novas características dos modelos.
Uma ficha técnica do GT circulou na pesquisa. (Somente com informações do motor V8)
“Pintura externa era gelo” – Será que era uma cor, ou era apenas o branco da linha Maverick?




Mais para frente veremos melhor, mas o Maverick branco na foto é o identificado pela letra C




Pega ladrão!

O pessoal da Quatro Rodas estava de olho nas atividades do IPOM – Instituto de Pesquisas de Opinião de Marketing. Parece até coisa de filme. Tiveram que subir no telhado para fotografar. Foram muitas fotos, até que os guardas os viram. Conseguiram fugir disfarçadamente pela rua.
As fotos que tiraram lá do telhado, são as que ilustram a matéria. O desenhista Ênio Araujo foi convidado e pôde desenhar os carros com detalhes.

Que demais!


A Pesquisa

O galpão tinha 13 carros ao todo.
10 deles ficaram alinhados, 5 de cada lado, frente a frente.
Cada carro era identificado por uma letra. Não haviam emblemas com nome do carro ou marca.
No caso do Maverick (de acordo com a revista):
C – Maverick Super Luxo 1977
T – Maverick atual (1975)
L – Maverick GT 1977
V – Maverick Super 1977

(Depois vamos comparar com outras fotos)

Conforme a primeira descrição e foto da revista, a posição era essa:

Corcel coberto
Opala Cupê
Corcel 1977
Brasilia
Chevette
Maverick C 1977
Maverick T 1975
Corcel 1976
Passat
Corcel coberto



A cada etapa da avaliação, o convidado respondia a um questionário. Tudo era feito metodicamente. No final, o convidado recebia uma garrafa de vinho “Três Cavaleiros”

Perfeito, a revista está disponível há muito tempo, muita gente já viu. O que temos agora é mais uma cortesia do Sr. Baptista, ao qual eu agradeço grandemente quantas vezes for preciso. São as fotos dessa Clínica!

Maverick T


Ao lado um Chevette



Uma posição mais à frente


Chevette ao lado esquerdo; Brasilia na diagonal à frente; Opala cupê ao lado da Brasilia

Maverick C diretamente à frente; Brasilia na diagonal à frente; Opala cupê ao lado da Brasilia;


Em outra sala ficaram os outros Maverick 1977 – V, K e L


Maverick L GT 1977







Maverick K Super Luxo 1977








25 – Maverick V LDO 1977









Interior do Maverick LDO 1977 – Atenção para a costura do banco e cor do tecido, espaço reservado para o emblema no porta luvas e forro de porta com detalhe branco.


Interior do Maverick LDO 1977 – costura do banco e cor do tecido, desenho dos botões de acionamento do limpador de parabrisa e farol.

Maverick (de acordo com as fotos):

C – Sem foto
T – Maverick atual (1975)
L – Maverick GT 1977
K – Maverick Super Luxo 1977
V – Maverick LDO 1977

Há divergência com a letra C e a V. Entendi que haviam 5 Maverick. Um modelo atual e os 4 novos: Super, Super Luxo, GT e LDO. Com os 10 carros enfileirados, ficaram o atual (T) e o Super 1977 (C). Em separado ficaram o GT 1977 (L), Super Luxo 1977 (K) e o LDO 1977 (V).
A revista se perde ao falar do C. Não temos a foto do C, como dos outros, somente coberto, mas a revista mostra claramente sua presença no salão com os 10 carros.

E o resultado da Clínica, tem também?
Mas é claro!



Outubro de 1975
Assunto: Clínica para aceitação do produto Maverick / Corcel 1977

O objetivo era determinar a aceitação dos novos modelos do Maverick – LDO e GT. Determinar a extensão da substituição do Corcel 1977 pelo Maverick. A clínica aconteceu durante os dias 5 e 13 de setembro de 1975. Responderam à pesquisa compradores de carros novos.

·         O Maverick 1977 teve maior preferência sobre o modelo de 1975. Destaques para grade, lanternas e espaço interno. Não demonstrou substancial crescimento frente ao Opala.
·         LDO e GT foram bem recebidos. Gostaram das entradas falsas de ar do capô do GT, mas desaprovaram o material de cobertura do assoalho. Gostaram do interior do LDO, mas reprovaram as cores dos forros de porta, estofamento e cor das calotas.
·         Praticamente não há substituição do Corcel 1977 pelo Maverick 1977. (Entendo como: Não há indícios que o Corcel 1977 deva substituir o Maverick 1977)
·         Em termos de preferência de compra, o Corcel 1977 é mais fraco do que a clínica de maio de 1974 mostrou, sem nenhum incremento contra o Corcel 1975. Overseas Marketing Research foi a mesma empresa que fez a Clínica do Maverick em 1971.




Propósito:

Determinar a aceitação do Maverick 1977 sobre o Opala 1975 e sobre o Maverick 1975. Avaliar o Maverick LDO e GT 1977 e determinar a provável substituição do Corcel 1977 pelo Maverick 1977

Principais descobertas:

·         O Maverick 1977 é substancialmente preferido sobre o Maverick 1975. Mudanças na grade, lanterna e espaço traseiro foram reconhecidos como melhorias. Porém, as mudanças não resultam em nenhum aumento substancial sobre o Opala.
·         LDO e GT foram muito bem recebidos. Vários aspectos do interior do LDO foram muito avaliados. O detalhe do forro de porta, cor das calotas e cor do estofamento foram mencionados como desagradáveis. Os itens do GT: Capo, performance, aparência frontal, posição dos instrumentos e controles e esportividade foram elogiadas. O tipo de material que cobre o assoalho foi avaliado negativamente.
·         Não há provável substituição do Corcel 1977 pelo Maverick 1977
·         Não há evidencias que a série básica do Maverick é fraca em relação a série Básica do Opala e a “versão topo de linha” do Maverick é relativa a “versão topo de linha” do Opala.
·         Em relação a última clínica (maio de 1974) a preferência de compra pelo Corcel 1977 é menor entre os “compradores” de Corcel 1975 e os concorrentes. O preço do Corcel 1977 pode ser o motivo.
·         Em uma linha de produtos incluindo o Corcel 1975, Corcel 1977 e Maverick 1977 a preferência de compra pelos produtos da Ford aumentou para 43% contra 33% de uma linha de produtos apenas com o Corcel 1977 e Maverick 1977.




Resumo das conclusões

I.                    1977 Maverick Super e Super Luxo

8 carros serão avaliados: Maverick 1975, Maverick 1977, Corcel 1975, Corcel 1977, Opala, Passat, Chevette e Brasilia. Metade das pessoas vão avaliar os carros básicos e a outra metade, os carros topo de linha. Será dividido em três partes:
 - “prospects” – Vamos entender como pessoas que compram. Então temos 3 grupos: Os Compradores de Maverick, Os Compradores de Opala e Os Compradores de Corcel, Passat, Chevette e Brasilia. (C, C/D)

      A.      Avaliações do Maverick 1977 (básico e topo)
      B.      Onca (Corcel 1977) substituição pelo Maverick 
      C.      Comparativo de forças e fraquezas dos modelos Maverick


Avaliações do Maverick 1977

Preferência pela compra – O Maverick 1977 teve maior preferência de compra frente aos outros carros.
Avaliações gerais – A avaliação geral é um bom indicativo para a preferência pela compra. O Maverick 1977 foi melhor avaliado que o Maverick 1975.
Avaliação do Exterior – As mudanças exteriores feitas no Maverick 1977 refletiram favoravelmente. Grade, aparência geral da traseira e lanternas chamaram mais atenção. Entre os compradores de Opala e C, C/D, aparência geral externa teve apenas um pequeno ganho.
Os compradores de Maverick avaliaram positivamente o Maverick 1977 sobre o Opala em quase todos os itens. A maior exceção foi a substancial deficiência no tamanho do vidro traseiro. Os compradores de Opala avaliaram positivamente o Opala sobre o Maverick 1977, exceto na aparência da grade. Onde o Maverick tem uma leve vantagem.




Avaliação do interior – A melhoria do espaço do compartimento traseiro do Maverick 1977 refletiu em pequeno ganho entre os compradores de Opala. Os compradores de Maverick avaliaram o banco traseiro com conforto levemente melhor que o do Maverick 1975.
O Maverick continua com deficiência no espaço interno traseiro mesmo após as melhorias.

Tamanho do exterior e interior – Ok, aqui os resultados variam entre o tipo de carro que os avaliadores querem.

Imagem projetada – Os compradores de Maverick avaliaram igualmente Maverick e Opala nas seguintes imagens:
Um carro para mulher;
Um carro para uso em família e
Bem proporcional.

Os compradores de Opala avaliaram igualmente Opala e Maverick nos itens:

Forneceria proteção em um acidente;
Um carro que tem estabilidade e
É luxuoso

C,C/D avaliaram Opala e Maverick com algumas diferenças. Melhor para o Maverick:
Um carro que tem estabilidade
Aparência esportiva

Melhor para o Opala:
Um carro para uso em família
Bem proporcional
Um carro que eu gostaria de ter.

Relativo posicionamento dos carros - pré-clínica – Antes de entrar na clínica, os convidados posicionaram 7 carros. O Galaxie significava 10 e o VW 1300 1. O Opala marcou 7.7 e o Maverick 7.3.


Percebemos aqui que faltam partes do documento. Provavelmente, faltam mais fotos também.

Bom, pelo que vimos, o Maverick 1977 tinha um grande potencial em relação ao Maverick 1975, mas pouca vantagem sobre o Opala. É claro que a Ford iria melhorar os pontos avaliados negativamente, mas no geral o Maverick é visto mais como um carro de aparência esportiva do que um carro para uso em família. Ela precisaria alinhar a imagem do Maverick com o a imagem que os consumidores tinham sobre a respeito dele.

Embora eu não tenha nada sobre a clínica de maio de 1974 feita com foco no Corcel, podemos notar que desde o início, o projeto do novo Corcel não agradou tanto como deveria. Na pesquisa que lemos agora, vimos que eles não encontraram motivos para que o Corcel 1977 substituísse o Maverick 1977. O verdadeiro “carro chefe” das vendas da Ford era mesmo o Corcel (1).
Acredito que cada década tem um estilo diferente. Os veículos, o cinema, as roupas, a música, o comportamento... tudo muda de 10 em 10 anos e aí está um grande desafio para lançar um automóvel de sucesso de vendas, pois as pesquisas começam bem antes e quando o carro chega, talvez não seja mais o que o público espera. O inverso também pode acontecer e foi o caso do novo Corcel que quando foi lançado em 1977 passou a vender muito. Coisa que ninguém acreditaria em 1975.
Bom, são diversos fatores que influenciam a compra de um carro.

Quando lemos sobre o Corcel II substituir o Maverick, imediatamente temos o entendimento que um sairia para a chegada do outro, mas não podemos deixar de levar em consideração que a Ford talvez quisesse saber se lançando um carro novo, ele não estaria passando por cima de outro carro já existente. 
Lembrando que nos EUA, o Maverick e depois o Pinto, foram posicionados estrategicamente cada um em sua faixa de mercado para que um não tirasse o comprador do outro e nem do Mustang.
Como vimos, o Corcel II não apresentou vantagem nem mesmo sobre o Corcel 75, o que indica que não seria um bom lançamento, mas também mostra que ele não invadiria a faixa de mercado do Maverick 77, pois também não mostrou vantagens sobre ele. 
É interessante que nós só estamos discutindo essa questão de substituição porque temos o documento da Clínica, um material sigiloso, pois não encontrei em revistas ou jornais, alguém que levantou essa possibilidade ou ideia.
Mediante a isso e todas as melhorias previstas para o Maverick, eu sou levado a crer que a Ford não tinha objetivo de tirar o Maverick de linha e colocar o Corcel II em seu lugar.

A Ford tinha um dor de cabeça para resolver, o seu novo Corcel não agradou tanto assim. E agora? Desistiriam? Mudariam alguma coisa? Seguiriam em frente mesmo assim? 


Uma coisa que me intriga bastante é saber o que acontecia com esses carros após essas clínicas. Eles tinham plaqueta de identificação? Voltavam a ter a aparência dos modelos atuais e eram vendidos? Ficaram guardados até 1977? Foram totalmente desmontados e as peças voltaram para o estoque?
Quem sabe um dia nós encontremos essas respostas.

Interessante compararmos a, até então, provável linha 1977 com o que foi apresentado na Quatro Rodas de abril.
Em abril, havia dúvida sobre o modelo do teto de vinil. Aqui não foi falado de teto de vinil.
Em abril, as lanternas traseiras eram as mesmas, assim como a grade e seu emblema. Agora são lanternas novas, nova grade e emblema.
O ponto chave que liga tudo, é a calota. No desenho de abril, ela é exatamente igual como vimos nas fotos de agora. Isso me dá a certeza de que aqueles desenhos tiveram sim uma fonte real e não saiu da imaginação ou descrição de alguém. Talvez uma foto desse dia apareça.
Talvez o interior do LDO, seja uma tendência influenciada pelos conjuntos de aparência que vimos no Boletim Nº105. or branca/bege no assento dos bancos e forro de portas.
É como se em 1975 o Maverick tivesse renascido: Nova mecânica, novas opções de cores e interior, suspensão melhorada, apelo econômico... Um novo Maverick.

Folha de S. Paulo 26.6.75


Bom, essas diferenças mostram o ritmo que a Ford estava trabalhando. De abril para setembro ela tinha alterado bastante coisa e até o final de 1976 quando a linha 1977 foi apresentada no salão do automóvel, mudou ainda mais.

Gostaram? A próxima pesquisa vai mostrar mais um Boletim e vai encerrar a série sobre as mudanças durante 1975. Não perca!

Mais uma vez muito obrigado senhor Baptista pela gentileza de compartilhar esse material conosco. O senhor tem uma bondade incrível!


Acompanhem a AutoMotor!




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